Estes são os
carrinhos que, na cantina da empresa onde trabalho, servem para recolher os
tabuleiros das refeições.
Nada têm de
especial: altos, recebem uma boa quantidade de tabuleiros na vertical e dois em
profundidade, feitos para serem facilmente carregados e descarregados, bem como
lavados. E eficiência em evidencia.
Acontece, porém, que
lhes dou ainda um outro uso, não público nem visível. É apenas de mim para mim,
guardando cá no intimo o que desse uso resulta. Eu explico:
Conhecemos todos
gente a quem podemos chamar de “fala-barato” ou de quem se pode dizer que “canta
de galo”. Ou, para usar um termo menos simpático, “fanfarrões”.
São aqueles que
dizem que fazem e que acontecem, que está tudo mal, que já não há espírito de
grupo, que toada a gente só olha para o seu umbigo…
De uns sabemos não
passar de fanfarronice ou conversa fiada, que intuímos que, em momentos de
confusão, serão os que se escondem atrás das mesas ou de argumentos pouco sólidos
mas justificativos para uma “fuga” discreta”. De outros, poucos, sabemos que
serão os que estarão na primeira linha, os que darão a camisa ou subirão as
escadas em chamas. De outros ainda temos dúvidas, que a conversa é convincente
mas tem uma qualquer falha de sinceridade não muito visível.
Todos conhecemos
gente desta!
Pois eu uso estes
carrinhos de recolha de tabuleiros como forma de separar o trigo do joio, de
saber, sem sombra de dúvida, quais são os que solidários e interventivos e
quais os que mais se preocupam com a sua própria pele que com tudo o resto.
No regresso de uma
refeição observo quem coloca o seu próprio tabuleiro logo à entrada ou o empurra
lá para o fundo. Ou, se preferirem, quais os que se preocupem em deixar espaço
para que outros os possam colocar com facilidade e quais os que nem nunca se
preocuparam com semelhante questão, mesmo que saibam o difícil que é empurrar
um tabuleiro que esteja à frente com a beira do nosso próprio tabuleiro. Não é
mesmo nada fácil.
Ainda está para
vir a primeira vez em que este diagnóstico simples e “de trazer por casa” se
revele falível.
É que nem tudo
serve apenas para aquilo que foi construído!
Texto e imagem: by
me
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