quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Dupla função




Estes são os carrinhos que, na cantina da empresa onde trabalho, servem para recolher os tabuleiros das refeições.
Nada têm de especial: altos, recebem uma boa quantidade de tabuleiros na vertical e dois em profundidade, feitos para serem facilmente carregados e descarregados, bem como lavados. E eficiência em evidencia.
Acontece, porém, que lhes dou ainda um outro uso, não público nem visível. É apenas de mim para mim, guardando cá no intimo o que desse uso resulta. Eu explico:
Conhecemos todos gente a quem podemos chamar de “fala-barato” ou de quem se pode dizer que “canta de galo”. Ou, para usar um termo menos simpático, “fanfarrões”.
São aqueles que dizem que fazem e que acontecem, que está tudo mal, que já não há espírito de grupo, que toada a gente só olha para o seu umbigo…
De uns sabemos não passar de fanfarronice ou conversa fiada, que intuímos que, em momentos de confusão, serão os que se escondem atrás das mesas ou de argumentos pouco sólidos mas justificativos para uma “fuga” discreta”. De outros, poucos, sabemos que serão os que estarão na primeira linha, os que darão a camisa ou subirão as escadas em chamas. De outros ainda temos dúvidas, que a conversa é convincente mas tem uma qualquer falha de sinceridade não muito visível.
Todos conhecemos gente desta!
Pois eu uso estes carrinhos de recolha de tabuleiros como forma de separar o trigo do joio, de saber, sem sombra de dúvida, quais são os que solidários e interventivos e quais os que mais se preocupam com a sua própria pele que com tudo o resto.
No regresso de uma refeição observo quem coloca o seu próprio tabuleiro logo à entrada ou o empurra lá para o fundo. Ou, se preferirem, quais os que se preocupem em deixar espaço para que outros os possam colocar com facilidade e quais os que nem nunca se preocuparam com semelhante questão, mesmo que saibam o difícil que é empurrar um tabuleiro que esteja à frente com a beira do nosso próprio tabuleiro. Não é mesmo nada fácil.
Ainda está para vir a primeira vez em que este diagnóstico simples e “de trazer por casa” se revele falível.
É que nem tudo serve apenas para aquilo que foi construído!

Texto e imagem: by me

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