terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Declaração de voto




Quando Portugal aderiu à União Europeia, fê-lo sem perguntar nada aos Portugueses. Foi uma decisão política, tomada por quem estava no poder, e a vontade do Povo foi simplesmente ignorada.
Quando Portugal aderiu ao Euro, mandando às urtigas o Escudo, também aconteceu à revelia da opinião dos Portugueses. Foi uma decisão política tomada pelos “poderosos”, ignorando se os cidadãos nacionais o queriam ou não.
Agora, que toda a Europa parece estar em crise profunda, económica e política, fala-se na exclusão de alguns países do Euro, o nosso incluído. Ou mesmo do desmembramento da União Europeia, com a sua dissolução total ou parcial. Também estas decisões, que afectarão Portugal, serão tomadas sem que qualquer de nós, Portugueses, sejamos tidos ou achados no processo.
Lamento-o profundamente e este é um dos meus protestos contra isso.
À uma porque a Democracia se deve fazer ouvindo o Povo e não apenas seguindo as vontades ou decisões de uns quantos “iluminados”. E se sobre leis “menores” ou correntes, como o orçamento do estado ou o código penal ou as leis orgânicas deste ou daquele sector, bastarão os nossos representantes para as elaborar e votar, questões tão de fundo como estas têm que ser decididas pelo colectivo. Creio que todos nós devemos ter uma ou mais palavras decisivas a dizer sobre a matéria e não devemos deixar que sejam apenas alguns “doutos” a fazê-lo.
A ferramenta para tal, constitucionalmente em vigor, chama-se “referendo” e é bem mais que um mero instrumento de “faz-de-conta que a democracia existe”.
Depois porque, em tendo havido consulta popular sobre as adesões, eu teria votado entusiasticamente a favor, da mesma forma que, em vindo a haver referendo sobre uma eventual saída da União Europeia ou do Euro, votarei e farei campanha para que tal não aconteça.
A redução ou eliminação de fronteiras, tal como a livre circulação de pessoas e bens, é um passo significativo, entre outros aspectos, para minimizar a possibilidade de conflitos armados. É um passo significativo para que termine essa terrível aberração da “posse de terra”, aquilo que já por cá estava ainda antes da existência do Homem, e que continuará a estar muito depois da sua extinção. É um passo significativo para que a distribuição de bens essenciais seja uniforme e em função das necessidades e não dependendo dos desejos de poder de uns quantos “governantes”, mais desejosos de mandar que de governar. É um passo significativo para a diminuição das desigualdades e assimetrias, permitindo que os seres humanos possam viver no lugar de apenas existirem.

Dirão que estes desejos serão utópicos e talvez condenados a nunca verem a luz do dia, tal como aconteceu com diversos ideais, incluindo o Esperanto. E que alguns apelidam de “imperialistas”.
Talvez que sejam bem difíceis de atingir.
Mas enquanto andarmos todos com rivalidades fúteis, com o conceito de competitividade dependurado no nariz e a discutirmos uns com os outros como bairristas ferrenhos, continuarão a existir obesos e gente a morrer de fome, gente a tomar decisões em gabinetes luxuosos e outros a cair nas frentes de combate, senhores e escravos, e tudo isto apenas porque se teve a sorte ou azar de nascer neste ou naquele ponto do globo.

Tenho-me na conta de ser igual a todos os outros seres humanos, nem mais nem menos que nenhum deles. A mesma barriga para alimentar, o mesmo corpo para manter vivo e saudável, a mesma sede de conhecimento e de liberdade.
A união real entre povos, com tudo o que isso implica de político e económico, é uma das formas possíveis de nivelarmos, por cima, os Humanos.
E tudo quanto possa fazer retroceder esse nivelar terá o meu voto contra.
Supondo que a Democracia ainda existe e é posta em prática.


Texto e imagem: by me

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