sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Escalas




As cerdas, hoje, são em nylon, os caixotes em plástico e já quase ninguém os conhece por “Almeidas”.
Mas são aquelas pessoas que têm aqueles ofícios que ninguém quer, que quase ignoramos que existem e que, como se tudo isso não bastasse, ganham misérias.
Mas não se enganem os incautos, que de miseráveis nada têm. É que, por vezes, os extremos de uma escala de valores ocupam os lugares cimeiros noutras escalas.
Este estava junto ao seu carrinho, fumando um cigarro e de conversa com um vizinho aqui da rua. Bem disposto, vi-o e ouvi-o a meter conversa simpática com duas senhoras que passavam, perguntando-lhes se o cesto que acabavam de comprar era para deitar fora que ele ficava com a coisa. Risos, ao sol de Inverno, e aquilo ficou por ali.
E, enquanto eu mesmo acabava o meu cigarrito à porta do “meu” café, oiço-o gritar:
“Oh patroa! Oh patroa!”
Olho eu e vejo para onde olhava ele. No café logo abaixo, que tem uns sete degraus de acesso ao seu interior, uma outra vizinha estava parada, com o seu carrinho de bebé.
“Oh patroa! Quer que a ajude?” continuou.
E sem esperar resposta, ei-lo a correr aqueles vinte metros para a ajudar a subir com o carrinho.
Se a profissão de “Almeida” está num dos extremos da escala social, o coração deste está bem no outro extremo na escala de Ser Humano!


Texto e imagem: by me

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