Juntámo-nos os três
no autocarro: o seu motorista, eu mesmo, com a sacola às costas e a câmara no
ombro e a freira de cinzento, que comigo subiu. O resto… o resto era uma
imensidão de bancos vazios, que p’las duas e pouco da tarde de natal poucos são
o que andam de autocarro.
Ao subirmos,
avisou-nos o motorista com bonomia que tivéssemos atenção, pois que o fazer
sinal de paragem ao autocarro, com ele tão perto, não é garantia que seja visto
a tempo e que pare.
Pedi desculpa e
agradeci, pois tinha sido o caso, e segui para o fundo. Mas a boa da freira,
que se sentou no banco junto à porta, é que não esteve pelos ajustes e
protestou, afirmando com veemência que tinha-o feito com antecedência.
“Temos discussão”,
pensei. “O melhor é ir pôr água na fervura!” E regressei para junto da porta da
frente, ficando a meia distância entre quem conduzia e quem era conduzido, o
primeiro com bom-humor, a segunda deixando escapar entre-dentes um conjunto de
protestos contra tudo e todos, pouco consentâneo com as vestes e o terço que
trazia na mão.
E fomos palrando,
eu e o motorista da Carris, que me parecia que, mais que sinais visíveis,
queria ele era quebrar a solidão de uma autocarro vazio.
Da visibilidade
dos sinais dos passageiros à visibilidade das bandeiras dos autocarros,
passando por carreiras mais ou menos movimentadas nestes dias, houve de tudo um
pouco.
Mas a maior
preocupação dele era, sendo novato nesta linha, nesta tarde de natal onde
poderia almoçar no local de terminus da carreira, ali ao Calvário.
Dei-lhe uma ou
duas sugestões, sem garantias de estarem abertos neste dia, e terminei
alvitrando que na esquadra de polícia, mesmo pertinho da paragem, haveriam de
saber.
Desci ao cimo da
Alvares Cabral, com a esperança de poder tomar um café na esplanada do Jardim
da Estrela. Dos votos de “Boas Festas” com que me despedi, ouvi dele um “Igualmente”.
Da freira, cinzentona por fora e por dentro, nada ouvi que não o seu resmungo
que não sei se oração. Espero que tenha ido encontrar conforto e bom-humor onde
quer que tenha ido. E que não tenha azedado por antecipação o almoço daquele
simpático e bonacheirão motorista da Carris.
Um daqueles que,
nestes dias, estão a trabalhar e de quem nem notamos a presença.
Texto e imagem: by me
Sem comentários:
Enviar um comentário