Cá nesta Babilónia
Cá nesta Babilónia,
de onde mana
Matéria a quanto
mal o mundo cria;
Cá, onde o puro
Amor não tem valia,
Que a Mãe, que
manda mais, tudo profana;
Cá, onde o mal se
afina, o bem se dana,
E que pode mais
que a honra e a tirania;
Cá, onde a errada
e cega Monarquia
Cuida que um nome
vão a Deus engana;
Cá, neste
labirinto, onde a Nobreza,
O Valor e o Saber
pedindo vão
Às portas da
Cobiça e da Vileza;
Cá, neste escuro
caos de confusão,
Cumprindo o curso
estou da natureza.
Vê se me
esquecerei de ti, Sião!
Luís Vaz de Camões,
in “Sonetos”
Imagem: by me
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