quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Uma questão de atitude



Não ser surpreendido pela vida pelo menos uma vez por dia significa que não a estamos a viver em pleno e que não lhe estamos a prestar atenção.
De conversa com um motorista de táxi (a corrida fora suficientemente comprida para que muito se dissesse) fiquei a saber que já anda por cá, Portugal, há vinte anos. E isto nada teria de estranho (já por cá ando, no mesmo local, há mais de cinquenta), se não fosse de origem brasileira.
É que não é normal ver-se uma natural do “País-Irmão” a viver tanto tempo aqui. Em regra, estão por cá uma meia-dúzia de anos, endireitam a vida ou juntam um pé-de-meia e regressam. Questionei-o sobre o insólito.
Disse-me que assim era e que só conhecia dois concidadãos a viver há tanto ou mais tempo aqui. E contou-me mais.
Contou-me que era filho de família mais ou menos abastada, que frequentara bons colégios e que, já na faculdade, pusera a mochila às costas e zarpara. Motivo?
Que a irmã tinha estado sequestrada, que fora maltratada e que ele não queria essa vida para ele nem para família que haveria de constituir.
E os estudos, perguntei-lhe, continuara-os?
Disse-me que não. Que, à época, obter toda a documentação de equivalência universitária, com o curso a meio e incluindo as certificações consulares, era coisa mais de dois anos. E ele tinha tido que ganhar a vida.
E disse-me que havia feito de tudo um pouco, que havia casado e tido filhos e que, agora, estava já bem e tranquilo, possuindo aquele táxi em que me transportava e mais três com motoristas dia e noite.
É assim que um jovem estudante de administração de empresas larga tudo e parte para o desconhecido e, passados vinte anos, é um médio empresário com vida estável num país que não o seu de origem mas que adoptou.
E nós, por cá, passamos o tempo a queixarmo-nos da vida mas quantas vezes de barriga cheia e à espera que alguém faça alguma coisa por nós, em vez de traçarmos o nosso próprio destino!

Texto e imagem: by me

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