sábado, 17 de setembro de 2011

O soldado 27



Chega um dia ao comando da companhia a informação que o pai do soldado 27 havia morrido num acidente de viação. Com a indicação adicional que haveria que o informar de tal e dispensa-lo para as exéquias.
Acontece que soldado 27 era um tipo porreiro, estimado por todos, camaradas, sargentos e oficiais. Ninguém, no comando da companhia, tinha coragem de dar tal notícia a tal figura.
Mas um sargento, conhecido por ser um brutamontes, assume o encargo e manda formar a companhia na parada. E, de frente para os homens, anuncia:
“Soldado 27! Cumpre dizer-lhe que houve um acidente de automóvel na sua terra, tendo morrido seus pais e avós.”
O soldado 27 grita de comoção, chora de dor e quase desfalece, quando o sargento, dando uns passos em frente, acrescenta:
“Esteja descansado, oh 27, que foi só o seu pai.”
“Ah, ainda bem!”, diz o coitado.

Esta anedota, parva e velha, tem-me vindo à memória com demasiada frequência nos últimos tempos. Para ser mais rigoroso, lembro-me dela de cada vez que oiço as notícias ou leio um jornal, em que se fale ou escreva sobre a actual situação política e económica do país. É que vou identificando, sem sargentos ou vinte e setes, a mesma técnica de informação e manipulação de opiniões.
De quando em vez vem alguém a terreiro anunciar um eventual aumento de imposto, taxas ou preços de bens de primeira necessidade. Ou, ainda, cortes nos subsídios, comparticipações e afins.
Naturalmente que os protestos se fazem ouvir por parte dos cidadãos em geral e suas organizações em particular, bem como das oposições políticas.
Um ou dois dias depois vem alguém, desta feita representando o governo, acalmar as hostes e avisar que, afinal, os aumentos não são de 50% como haviam aventado, mas apenas de 30% ou que os cortes não eram totais como as aves de mau agouro haviam denunciado, mas apenas de 50%.
E todos respiram de alívio, pensado e afirmando que, afinal, não se está tão mal quanto se supunha.
Pergunto-me se os politólogos, analistas, comentadores, economistas e restante cambada não estarão a fazer um trabalho de encomenda ao tecer e lançar tais anúncios públicos catastróficos.
E recordo-me, ainda, de um outro conceito: “Pode enganar-se muita gente durante algum tempo; pode enganar-se algumas pessoas por muito tempo; mas não se pode enganar muita gente durante muito tempo.”

Texto e imagem: by me

Sem comentários: