Quando primo o
botão da minha câmara eu sei quais as consequências:
A luz, que
condicionei com a minha objectiva, passa através daquele portão agora aberto e
a que damos o nome de obturador, e vai incidir no material sensível à luz que
lá se encontra.
Este pode ser uma
chapa de metal, um pedaço de vidro, algo tão flexível quanto a película ou
mesmo algo tão tecnologicamente complexo quanto um sensor electrónico. A luz
incide nele e provoca uma alteração ao seu estado original.
Mas se formos
observar esse alvo de destino, nada vemos. A luz chegou, mudou, mas o seu
resultado só será constatável depois de tratarmos o alvo.
Nalguns casos,
teremos que recorrer a processos químicos, alguns bem complexos, outros nem
tanto, de modo a que alteremos o que a luz já alterou: tornar visíveis as
modificações físicas.
Noutros casos,
teremos que recorrer a complexos sistemas electrónicos para conseguirmos tornar
perceptível aos nossos olhos as alterações magnéticas do suporte.
Mas, seja qual for
o caso, teremos sempre que fazer algo para vermos o resultado do premir do
botão.
E quando o vemos,
apercebemo-nos do mesmo: a luz que passou condicionada através da objectiva e
que permitimos que chegasse ao alvo, mostra-nos algo que é semelhante ao
assunto.
Com maior ou menor
profusão de cores e de cinzentos e respeitando a perspectiva, temos algo que é
análogo ao assunto.
Claro que é
bi-dimensional, claro que não tem o cheiro, nem o som, nem o paladar nem o
relevo daquilo que quisemos registar.
Mas se compararmos
a imagem obtida e processada e o assunto para onde apontámos a nossa câmara,
facilmente encontramos semelhanças, parecenças, analogias, entre ambos. Seja
qual for o método usado para a produzir, químico ou electrónico.
Temos assim, e
para além de quaisquer dúvidas de cariz técnico, filosófico ou semântico, que
toda a fotografia é analógica. Seja qual a metodologia usada para a obter.
E,
consequentemente, torna-se absurdo o uso da expressão “fotografia analógica”
por oposição a “fotografia digital”.
Chamemos-lhe
foto-química, de rolo, à moda antiga, até mesmo batata-frita.
Todas as
fotografias, no seu estádio primário são impossíveis de ver, todas as
fotografias necessitam de um processamento adequado à sua natureza técnica,
todas as fotografias são análogas ao assunto fotografado. Todas as fotografias
são analógicas.
O que está
mostrado na imagem será, talvez, o único tipo de escrita com luz (fotografia)
que não necessita de tratamento especial e cuja analogia com o assunto será
discutível.
By me
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