Uma ocasião, num
exame de acesso a um posto de trabalho, uma senhora contestou o resultado.
Declarou ela que
as questões colocadas na prova de cultura geral não constavam do livro de
cultura geral que havia comprado e estudado.
Esta história,
infelizmente, não é anedota nem inventada: aconteceu mesmo, com gente que
conheço.
E vem ela a propósito
de me terem pedido para mostrar ou recomendar alguns livros.
Caramba! Nada de
mais difícil!
Qual ou quais os
livros importantes sobre este ou aquele assunto? Qual ou quais os livros que servem
ou serviram de base para aquilo que sei ou sou? Qual ou quais os livros que me
marcaram neste ou naquele aspecto, neste ou naquele ponto da vida, e que posso
recomendar?
Todos e nenhum!
A todos fui buscar
um nico do que penso e faço, em nenhum está tudo o que penso e faço. E, nesta
lista de todos e nenhum não incluo todos aqueles que não conheço nem nenhum dos
que conheço mas ainda não tive oportunidade de ler.
Somos todos nós
fruto do imenso somatório das nossas experiências, lidas, tidas ou pensadas,
pelo que designar alguns excluindo todos os demais será como falar de sapatos
referindo apenas o tacão.
Há um, no entanto,
que evidencio pela história que tenho com ele.
Li-o tinha eu 21
anos e chegou-me às mãos através de um mestre e amigo. Intitulado “Photographic
seeing”, foi escrito por Andreas Feiniger em 1973.
É um livro sobre técnica
e estética fotográfica, norte-americano, e eu, faminto que estava de
conhecimentos, li-o de fio a pavio.
Tentei comprá-lo
ao mestre. Não mo vendeu. Tentei que mo oferecesse. Recusou. Tentei que me
deixasse surripiá-lo. Não autorizou.
Os anos passaram,
não consegui tê-lo de novo nas mãos e o mestre e amigo faleceu. E perdi o rasto
ao livro. Sem, no entanto, o esquecer.
Uma ocasião, passados
muitos anos e de conversa com uma livreira (daquelas verdadeiras, que fazem dos
livros mais que um negócio, uma paixão) contei-lhe a história e ela disse-me
que iria procurar por ele.
Passadas talvez
duas ou três semanas contacta-me e diz-me que o encontrou e se eu estaria
interessado. Claro que estava!
Ela mandou-o vir,
eu fui buscá-lo e não perdi tempo: primeiro num jardim perto da livraria (que já
fechou como tantas outras), depois no comboio, mais tarde em casa, no trabalho,
no café, devorei-o por inteiro. Com o mesmo prazer de então e com uma dúvida
agora surgida.
O que eu agora lia
não era novidade nem surpresa. Mais ainda, concordava com a esmagadora maioria
do que ali estava expresso. E o que ali estava e está, pese embora a
desactualização técnica natural de 40 anos de diferença, estava e está tão
actual agora como então.
A minha dúvida,
que persiste até hoje, é sobre o motivo da minha concordância com ele: não sei
se fiquei assim tão marcado e durante tantos anos por ele, se a minha própria
evolução na fotografia me conduziu àqueles mesmos pensamentos e práticas.
Muitos outros
livros, ao longo dos anos, me marcaram. Na vida em geral e na fotografia em
particular. E, curioso ou não, muitos dos que me marcaram não são sobre
fotografia. São sobre formas de estar, de agir, de pensar. Que, de um modo ou
de outro, condicionam ou formam a minha forma de me relacionar com a fotografia
e a imagem. No antes, no depois e no durante o click fotográfico.
Mas este nem que a
vaca tussa não o largo. Ou dou. Ou vendo. Ou deixo surripiar.
Afinal, os mestres
são exemplos que devemos considerar.
By me
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