A história, texto
e imagem, remontam ao ano de 2009.
Desempenhava eu,
na altura, o papel de “fotógrafo à-lá-minuta”, no âmbito de um projecto fotográfico
e não só.
“Aprender é uma
necessidade que temos. Pelo menos eu tenho.
É por isso que,
sempre que posso, tento aprender com quem sabe mais que eu. Ou aparente saber. Não
importa a idade ou o que faz, que outras experiências são outros saberes.
Estava meio
sentado meio de pé, apoiado nas costas de um dos bancos do jardim. Que isto de
estar horas a fio de pé cansa! Pois sou abordado por dois homens, um na casa
dos vinte e tal, o outro já em finais dos trintas. E o mais novo, em estendendo-me
a mão, diz-me:
“Olá! Sou o XXX!” (o
nome não é importante) “Estamos aqui no jardim a fazer uma produção fotográfica
com YYY.” (o nome também não é importante, mas era uma figura do domínio público)
“E ao fazer a reperage do local, achámos interessante inclui-lo a si numa das
fotografias, para dar um ar nostálgico. Importa-se?”
Claro que não me
importei. Afinal, fotografia é fotografia e temos que ser uns para os outros. Até
porque eu mesmo já andei em situações semelhantes, pelo que os entendo bem.
Mas não pude deixar
de achar graça à expressão “produção fotográfica”. Bem como ao termo “Reperage”.
E se a primeira é entendível
pelo comum dos mortais, já o segundo é um termo técnico, hermético, que faz
tempo que não ouvia. Significa ele fazer o reconhecimento do local de produção,
escolher os melhores pontos de tomada de vista, tendo em conta a luz, o cenário,
as perspectivas, o tema a tratar… Acessoriamente, reconhecer as eventuais
dificuldades e encontradas as respectivas soluções, bem como as autorizações
necessárias.
Não acredito, para
ser sincero, que a esmagadora maioria dos portugueses conheça o termo, de
origem francesa e quase exclusivamente usado em cinema, vídeo ou mesmo
fotografia, como era o caso.
Passado um pedaço,
lá vieram eles: o chefe do grupo, talvez produtor, o fotógrafo, a maquiadora e
a figura a fotografar, bem como a filha, que também estava a ser alvo das câmaras.
Conversámos um
pouco, expliquei-lhes como e onde eu actuava e optou-se por um outro local,
tendo por fundo o coreto. Suponho que para enquadramento geográfico e para dar
um ar retro ou saudosista às fotografias. E posicionámo-nos:
Eu e a manha câmara
de frente para o coreto e o sol, as fotografadas sentadas no chão, à sombra e
de costas para ele e para todo o largo fortemente iluminado pelo sol cruel. E o
fotógrafo atrás de mim. A distância entre a minha câmara e as fotografadas, que
me foi pedido para ajeitar, era tão diminuta que tive que fazer uma ginástica
razoável para conseguir eu mesmo fazer a minha fotografia. Mas fi-la, que não
me atrapalho muito. Ao mesmo tempo que o fotógrafo, lá atrás, ia fazendo o que
tinha que fazer.
Acabada a função,
entreguei a minha fotografia, fiz o questionário da ordem, bem como mais uns
dedinhos de conversa, e fui curioso: Pedi ao fotógrafo, o tal da casa dos
vintes e tais, que me deixasse dar uma olhada no que tinha feito. Cumplicidade
entre “mestres do mesmo ofício” e tentar aprender mais qualquer coisa nesse dia.
Mas mais valia que
não o tivesse pedido e que eu mesmo tivesse ficado na ignorância! Que ele,
tirando partido da excelência do material que possuía e da grande angular que
usava, tinha feito o que podia ou queria, mais ou menos da seguinte forma: próximo
das minhas costas, de corpo inteiro, elas no chão, já pequenas no “boneco” em
virtude da perspectiva usada e o coreto e árvores em fundo, tão pequenos que
mal se distinguiam um das outras. Sendo que tudo isto em contra-luz violento,
que o sol forte no chão não perdoava. E, por aquilo que pude ver no pequeno ecrã
da câmara dele, o controlo de exposição fora a mediania, não permitindo nem uma
correcta exposição às altas luzes nem às zonas de sombra.
Fiquei tão curioso
com o que vi que decidi que compraria a revista a que o trabalho se destinava,
quando sair para as bancas. Ainda que revistas femininas ou de sociedade não
sejam onde gaste o meu dinheiro ou use o meu tempo. Eu quero ver se aquelas
fotografias em particular foram usadas e com que resultado. Ainda que não
acredite, que tanto a perspectiva como a luz, mais que não serem as melhores, eram
mesmo as piores, da forma como vejo a situação.
É que fotografar não
é apenas apontar e premir o botão, deixando os automatismos tratarem da coisa e
os editores de imagem corrigirem os erros. Há que saber ver a fotografia ainda
antes de levar a câmara à cara, há que saber tirar partido das perspectivas
possíveis e adequadas, há que saber ler e usar da luz existente. E conjugar
tudo isso com aquilo que se quer contar com o resultado final.
E desta minha
experiência de aprendizagem com um fotógrafo profissional de imprensa, fiquei a
saber com exactidão o como não fazer algumas fotografias. Que aprender nem
sempre é pela positiva!”
By me
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