São os metros
quebrados, as molduras obtusas em segundos fluidos.
São os limites que
nos impomos quando a alma anseia pela distância. É a visão toldada por uma
perfuração cerrada. É fotografar às escuras num laboratório de sol e imprimir
em papel amarrotado as luzes aromáticas.
Abomino o formato
quadrado. E o rectangular. E o triangular, se o houvesse. Ou o trapezoidal que
invento com a minha câmara virtual, onde o tempo não pára na fracção de segundo
de uma exposição condenada!
Quando emolduro
uma fotografia, estou a fazer uma redundância. Já disse, com o meu enquadramento,
que só me interessa isto. Que todo o resto é inútil e que deixo de fora.
E estou a mentir,
com todos os meus dentes e os que já tive.
Nunca me interessa
só isto! Ou só aquilo! Ou só aqueloutro!
O meu interesse,
como fotógrafo, como ser humano, é todo o mundo e arredores, do segundo que
passa à humanidade que existe.
E quero ser dono
de tudo! Das árvores e dos pássaros, dos colos e das gárgulas. Cabelos, rugas,
gestos e sorrisos, palavras ditas e sonhadas na prata ou no electrão.
Mas tudo isto não
cabe no meu enquadramento! Como um sonâmbulo furioso, vou coleccionando as peças
do puzzle que é a vida, formando um desenho abstracto, tal como eu mesmo.
E quando o desenho
estiver concluído, esgotados que estiverem os raios de sol ou eu próprio, olhá-lo-ei
de onde quer que esteja e verei o que fui e o que fomos.
Aí, com todo o
cuidado, escolherei os pedaços bons. Juntá-los-ei com todos os outros pedaços
bons, de todos os outros homens, e faremos um novo universo, revisto e
melhorado.
Porque se para isto
não servir a fotografia, nem vale a pena dar-me ao trabalho!
By me
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