segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Não veio



Por vezes faço isto:
Estendo a mão ao calhas, retiro um livro ao calhas, abro-o ao calhas e leio ao calhas onde os olhos se me fixam.
Calhou agora a vez de “Noites brancas”, de Fédor Dostoievski.

Pag. 95:
“Hoje o dia esteve triste, chuvoso, sem luz, como a minha futura velhice. Fui assediado por estranhos pensamentos: sentimentos turvos, questões ainda obscuras para mim, comprimiam-se dentro do meu cérebro, sem que eu tivesse força ou vontade para as solucionar. Não, não seria eu quem poderia resolver tudo isso!
Hoje não nos veremos. Ontem, quando nos deixámos, as nuvens espalhavam-se no céu e o nevoeiro adensava-se. Disse que o dia seria mau; ela não respondeu, pois não queria falar contra si própria: para ela, este dia é luminoso e claro e nenhuma nuvem poderá eclipsar a sua felicidade.
“Caso chova, não nos veremos”, dissera ela, “não virei.”

Pensei que ela não iria notar a chuva de hoje, mas, no entanto, não veio.”

By me

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