Uma ocasião, há já
uns anos valentes, fui abordado num centro comercial por uma senhora.
De baixa estatura,
idosa e com roupas cuidadas mas igualmente antigas e boas, perguntou-me,
olhando-me nos olhos:
“É pintor?”
Fiquei meio sem
saber o que dizer, o que me é raro, mas lá lhe respondi que não, que o meu ofício
é outro.
“Ah, mas se calhar
é escritor.”
“Não. O mais próximo
disso tudo é ser fotógrafo, e nem sequer muito bom.”, disse, remexendo na câmara
pendura no ombro.
“Eu sabia. Em
olhando para si vi logo que era artista.” E seguiu sem mais dizer.
Fiquei com pena da
senhora, coitada.
Na sua vida, já
longa, tudo tem que ter um rótulo, tudo tem que estar classificado.
Se a conversa se
tivesse prolongado, talvez lhe tivesse dito que, em boa verdade, sou um iconógrafo.
Alguém que faz ícones da vida com as ferramentas que possui.
Não sei se me
entenderia, mas sempre ficaria com uma classificação extra para usar.
By me
Sem comentários:
Enviar um comentário