quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Iconógrafo



Uma ocasião, há já uns anos valentes, fui abordado num centro comercial por uma senhora.
De baixa estatura, idosa e com roupas cuidadas mas igualmente antigas e boas, perguntou-me, olhando-me nos olhos:
“É pintor?”
Fiquei meio sem saber o que dizer, o que me é raro, mas lá lhe respondi que não, que o meu ofício é outro.
“Ah, mas se calhar é escritor.”
“Não. O mais próximo disso tudo é ser fotógrafo, e nem sequer muito bom.”, disse, remexendo na câmara pendura no ombro.
“Eu sabia. Em olhando para si vi logo que era artista.” E seguiu sem mais dizer.

Fiquei com pena da senhora, coitada.
Na sua vida, já longa, tudo tem que ter um rótulo, tudo tem que estar classificado.
Se a conversa se tivesse prolongado, talvez lhe tivesse dito que, em boa verdade, sou um iconógrafo. Alguém que faz ícones da vida com as ferramentas que possui.
Não sei se me entenderia, mas sempre ficaria com uma classificação extra para usar.

By me

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