sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Em campanha



A história e a fotografia remontam ao ano de 2009.
Mas, se retirarmos o detalhe temporal do projecto “À-Lá-Minuta”, bem que se poderia ter passado ontem. Ou amanhã.

Apareceram já a luz definhava e eu pensava em abandonar o jardim.
Um grupo com bandeiras, exibindo o símbolo do seu partido sobre fundo branco (que estas coisas das campanhas eleitorais custam dinheiro!) Iam de banco em banco, tentando “impingir” os panfletos que traziam. E, para que não houvesse qualquer dúvida, a frente do opúsculo tinha a fotografia da mais alta figura do partido, sorrindo, justamente aquela que, em ganhando as eleições, poderá vir a ocupar o lugar de primeiro-ministro.
O facto de eu estar ali plantado, deambulando em torno da minha câmara e com outra pendurada no ombro, faz com que, por vezes, seja invisível. O que é uma sorte nestes casos. Mas não neste dia, nem para mim, nem para eles.
Depois dos velhotes, solitários ou não, nos bancos e do bando de garotos que ali festejava o primeiro dia de aulas e, consequentemente, o primeiro dia em que faltavam às aulas, foi a minha vez.
A cara dela não me era estranha e acredito que já a tivesse tido em frente da minha câmara, em estúdio de TV. Mas foi ele que fez as despesas da conversa e da função: Estendeu-me o folheto e perguntou-me “Quer ficar informado?”
A resposta já eu a tinha pronta, desde que os havia visto lá ao fundo: “Com isto ao peito, acha que iria votar em vocês?”
Estacaram, surpresos, e ela exibiu um sorriso amarelo quando viu aquilo que eu apontava. Já ele corou um pouco. Mas, se como disse antes, a cara dela me não era estranha, a dele não conhecia mas não esquecerei pela certa. Que a sua resposta, pronta, esteve ao nível.
“Já tivemos alguns a votar em nós. Já foram mais, mas já tivemos alguns e bons a votar em nós!”
E, estendendo-me a mão, afastaram-se, não sem antes ele acrescentar:
“Continue a querer mudar a coisa. O truque é esse: não desistir!”
O que ele não sabe é que, bem mais que “Querer mudar a coisa”, faço por isso todos os dias e vou-a mudando: Com o preço das minhas fotos, com os alertas sobre os actuais Big Brothers, com as intervenções sociais, com as conversas com os miúdos e graúdos que vou encontrando.

A revolução faz-se todos os dias, em todas as circunstâncias. Não apenas em campanha eleitoral!

By me

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