quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Tempo



Perguntou-me ela, enquanto fumávamos um cigarro numa pausa:
“Há quanto tempo é que fotografa?”
Fiquei sem perceber muito bem se a pergunta seria um elogio se uma crítica, mas sempre lhe respondi que, tendo a idade que tenho e tendo recebido a primeira câmara aos doze anos, isso já faz muito tempo.
Claro que à época fotografar era particularmente caro e pouco a usei. Um rolo, talvez dois. A câmara tenho-a, as fotografias com ela feitas não.
Não lhe expliquei, no entanto, que a fotografia faz parte da minha vida quase desde que me recordo. E que a primeira fotografia que me marcou, apesar de então não o ter sabido, foi esta.

Trata-se do Dr. Albert Scheweitzer, fotografado por Eugene Smith. E era ela a capa de um livro contendo a biografia do médico.
Li o livro por volta dos dez anos, numa idade em que as biografias de gente boa ajudam a formar a personalidade e forma de estar no mundo. Foi o caso.
Só muitos anos depois, já homem e a fotografar, a encontrei de novo, desta feita num livro sobre a história da fotografia e os grandes fotógrafos. Recordei-a de imediato e ao conteúdo do livro.
Foi talvez aí que me apercebi da importância da relação da imagem (fotográfica ou outra) e a história que conta e os estímulos que nos pode provocar. A minha formação profissional ter-me-á ajudado, mas foi esta fotografia que fez o click vital para esse encontro entre significados e significantes.

Não tenho de todo por importante o há quanto tempo se faz algo, fotografia incluída. A antiguidade não é posto! E o fazer-se há muito tempo uma dada actividade pode significar apenas que se passou muito tempo a fazer isso mesmo de uma forma medíocre e sempre igual.
Importante mesmo, creio, é sabermos tirar partido do que vamos aprendendo com a prática, definindo erros e eliminando-os do que fazemos, ao mesmo tempo que vamos explorando novas vias em busca de novas soluções.  
E, entendo eu no caso particular da fotografia, criar uma relação de empatia com o que registamos (positiva ou negativa) e transpor isso mesmo para o suporte.
O exemplo desta imagem e do seu autor creio que o explicam magistralmente.


By me

1 comentário:

Anónimo disse...

uma parte do mundo de W Eugene Smith
https://www.youtube.com/watch?v=5bIudVlWo4U