É teoria minha,
faz muito tempo, que o conceito de “enquadramento” é uma tirania!
Por um lado, é o
obrigar a que a imagem que queremos criar fique restrita aos limites do papel
ou ecrã, obrigatoriamente excluindo o que não lá cabe e obrigatoriamente
incluindo tudo o que é projectado pela objectiva.
Por outro lado,
esta projecção é rectilínea (enfim quase, já que também é ondulatória). E está
obrigada a cumprir as regras da perspectiva e da geometria que, definida ou
inventada pelo Homem actual, são adoptadas pelo consumidor, criador e
fabricante de imagens como padrão. O que ou quem não as seguir é rotulado de
disfunção ou erro, marginal, excêntrico ou louco.
Acrescente-se que
consumidores de imagem, produtores de imagem e conteúdos e fabricantes de
equipamentos se atêm a normas e formatos de imagem. Pela necessidade de
produção de máquinas e suportes, pelas imposições das manchas gráficas nas
publicações, pelas limitações de compatibilidade entre emissor e receptor nas
telecomunicações, a actual sociedade de imagem técnica e mecânica está
formatada. E o produtor ou o consumidor de imagem, levado pelo facilitismo,
formata os seus conceitos estéticos por estas restrições, produzindo, aceitando
ou consumindo imagens de acordo com estes padrões.
Enquanto elemento
integrado na sociedade ocidental fui e sou formatado deste modo. Nascido nos
finais de cinquentas do séc. XX, a minha vivência visual foi objecto destes
moldes e uniformizações, tanto em livros e periódicos, como na fotografia, como
no cinema, como na televisão. Tem escapado a pintura e a arquitectura, mas
estamos a falar de outras coisas. Os rectângulos em três por quatro, dois por
três, dezasseis por nove, cinemascope, de ouro ou alguns outros impuseram-se
como formatos não apenas socialmente recomendáveis como os únicos válidos.
Ao iniciar a minha
actividade como produtor de imagem (fotografia, cinema, TV) não pude deixar de
estar por isto mesmo influenciado. Culturalmente e por aquilo que me era
exigido profissionalmente. A necessidade de as minhas imagens se integrarem num
sistema de comunicação de massas, procurando que elas chegassem ao entendimento
e aceitação do maior número possível de consumidores assim me levou a ser e
fazer.
Mas, algures num
tempo que não sei precisar qual, achei que estava peado. Se a minha produção de
imagens profissionais tinha que seguir os cânones existentes, a minha
satisfação com ela estava a diminuir. À medida que o tempo passava (passa)
sinto que a rectangularidade e as proporções impostas não me satisfazem.
Continua a haver limites no enquadramento a prenderem-me. Continuam a existir
proporções formatadas a limitar-me.
No que ao vídeo e
ao cinema diz respeito, pouco ou nada posso fazer. Não tenho poder, quiçá
energia, para alterar o que quer que seja que me faça sentir mais livre na
criação e comunicação.
Mas no que à
fotografia toca…
Da existência de
limites não posso fugir. Estou mesmo em crer que, a este respeito, os únicos
realmente livres foram os nossos ante-ante-passados, com as suas pinturas
rupestres e os nossos contemporâneos com os seus graffitis. Aplicam as suas
imagens nas superfícies, independentemente das áreas ou limites desta. Se as
imagens terminam antes dos limites, tanto melhor, senão, tanto pior. Não é este
aspecto que condiciona.
Já no que às
proporções diz respeito, a coisa muda de figura. Quando fotografo, excluo
mentalmente do enquadramento do visor o que lá está que entendo estar a mais.
Procuro que a perspectiva se ajuste aos centros de interesse e às relações
entre eles, fazendo um enquadramento virtual em torno deles. Mais tarde, no
processamento da imagem, ajusto as proporções da imagem em função do seu
conteúdo e do que, na tomada de vista, imaginei.
O resultado? As
mais das vezes é um rectângulo assumidamente horizontal, em que as proporções
entre a largura e a altura são as necessárias e suficientes ao que tenho em
vista. Conteúdo e mensagem. E se existir algum tipo de relação matemática entre
uma e outra dimensão, é questão que não me perturba nem um pouco.
Se ao receptor das
minhas imagens fotográficas agrada ou não esta abordagem, é uma questão que
também não me tira o sono. Porque com as minhas imagens, as que faço para minha
satisfação, não as faço para que sejam eficazes em termos de comunicação de
massas mas, antes sim, para a minha própria satisfação. E esta não se prende
com cânones, formatações culturais ou limitações impostas por fabricantes.
By me
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