domingo, 14 de junho de 2015

A pérola



Já a tinha visto no comboio.
Pelo físico e pelo comportamento, seria dedutível que fosse uma toxicodependente, apesar de as roupas que trazia vestidas serem apresentáveis e limpas. Talvez que por ser domingo.
No piso intermédio da estação, vi-a de rabo para o ar, a perscrutar o chão e apanhar coisinhas pequenas com ar de preocupada. Como sou curioso, olhei também para o chão e vi.
Vi aquilo que parecia ser uma conta de um colar que, presumi, se tivesse partido. É bera perder aquilo que compõe um colar e baixei-me. Apanhei aquela e mais duas, que ela já estava a uns bons dois metros de mim, virada para outro lado.
Ao apanhar a quarta veio ela para o meu lado e estiquei-lhe a mão para lhe dar a que tinha nos dedos. E ouvi, para espanto meu:
“Não tem mais nenhuma aí dentro da mão? É que são verdadeiras!”
Foi instintivo: Abri a mão, onde estavam as outras três, e deixei-as cair no chão.
“Desculpe”, disse eu. “Coisas desse valor nem as quero segurar que me queimam as mãos.”
E afastei-me.

Agora digam lá se não sou um verdadeiro cavalheiro por ter retido na boca os palavrões que insistiam em brotar!


A imagem? De arquivo, naturalmente, que nem houve tempo de tirar a câmara do bolso.

By me

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