Já a tinha visto no comboio.
Pelo físico e pelo comportamento, seria dedutível
que fosse uma toxicodependente, apesar de as roupas que trazia vestidas serem apresentáveis
e limpas. Talvez que por ser domingo.
No piso intermédio da estação, vi-a de rabo
para o ar, a perscrutar o chão e apanhar coisinhas pequenas com ar de
preocupada. Como sou curioso, olhei também para o chão e vi.
Vi aquilo que parecia ser uma conta de um
colar que, presumi, se tivesse partido. É bera perder aquilo que compõe um
colar e baixei-me. Apanhei aquela e mais duas, que ela já estava a uns bons
dois metros de mim, virada para outro lado.
Ao apanhar a quarta veio ela para o meu
lado e estiquei-lhe a mão para lhe dar a que tinha nos dedos. E ouvi, para
espanto meu:
“Não tem mais nenhuma aí dentro da mão? É
que são verdadeiras!”
Foi instintivo: Abri a mão, onde estavam as
outras três, e deixei-as cair no chão.
“Desculpe”, disse eu. “Coisas desse valor
nem as quero segurar que me queimam as mãos.”
E afastei-me.
Agora digam lá se não sou um verdadeiro
cavalheiro por ter retido na boca os palavrões que insistiam em brotar!
A imagem? De arquivo, naturalmente, que nem
houve tempo de tirar a câmara do bolso.
By me
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