Em saindo de casa
em busca do primeiro café expresso e de pão, vejo a minha rua invadida: Vários
grupos de catraios, vestidos com camisolas iguais e enquadrados por adultos,
esquadrinhavam a rua.
Não demorou muito
que percebesse o que se passava: um raly-papper.
É uma daquelas
actividades sem muita popularidade, vá-se lá saber porquê. Divertida se bem
concebida, leva os participantes a porem em prática o seu sentido de observação
e de grupo, discutindo entre si as possíveis soluções aos problemas
apresentados.
Aliás, acho a sua
prática tão interessante que já a utilizei com fins didácticos.
A primeira vez,
faz já muito tempo, numa escola que me chamou para reforçar as actividades
circum-escolares do terceiro ciclo.
Como prática final,
concebi dois trajectos diferentes, com perguntas e propostas cujas respostas
teriam que ser apresentadas sob a forma de fotografias. A questão estava em que
as soluções “certas” implicavam o colocar em prática o aprendido em sala, já
que só havia uma resposta possível. Perspectiva, controlo de exposição,
contrastes tonais ou de cor, tempo de exposição, profundidade de campo, gestão
de luz existente… eram várias as temáticas abordadas.
A turma foi
dividida em dois grupos, um acompanhado por mim, o outro acompanhado pelos professores
titulares, cada grupo com propostas e questões diferentes.
O resultado, tanto
do convívio e prática como das fotografias resultantes e as aprendizagens
obtidas foi muito satisfatório, para não ir mais longe.
Fui mantendo este
exercício ao longo do tempo, tanto com jovens em situação escolar como noutros
grupos, em moldes de “workshop” ou equivalente.
Mas, e a partir de
dada altura, os resultados começaram a decrescer. Não devido ao proposto mas às
técnicas usadas pelos participantes: a câmara digital.
A possibilidade de
fazer-se várias tentativas, na esperança de uma delas estar melhor que as
outras, leva a que todo o processo de raciocínio perca qualidades. O acto de
pensar e ter certezas antes de premir o botão foi-se perdendo.
A alternativa, em
termos educativos ou formativos, seria a imposição de regras apertadas quanto
ao número de imagens possíveis de fazer, resultando numa prática mais castrante
que libertadora.
Na época em que comecei
com este exercício, o facto de ser executado em película, com um bem
determinado número de imagens possíveis, conduzia a essa disciplina interior, a
esse “pensar antes de fazer”, a ter certezas. Mesmo entre adolescentes, com a
sua energia e pressa de viver.
A imagem?
Tendo participado
nessa primeira acção de formação a título gratuito, foi o que me foi oferecido
na última sessão. Feita pelo grupo que não acompanhei, escolhida, paga,
emoldurada e entregue solenemente pelos alunos.
O facto de o terem
feito e a energia e vontade de liberdade que vejo nesta fotografia faz com que
seja das poucas que tenho em exibição permanentemente aqui em casa, pese embora
os acidentes de percurso que já sofreu.
E um orgulho
tremendo nela.
By me
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