Há
uns anos valentes fui chamado de urgência à escola onde tinha trabalhado.
Havia
uma turma, vinda inteirinha de outra escola mandada fechar pelo ministério, que
estava anormalmente mal preparada e haveria que fazer algo para a melhorar.
Algo fora do normal que permitisse aos alunos recuperar tempo perdido.
Ponderadas
as diversas possibilidades, juntei uma “task force” de professores e avançámos
para um trabalho de ficção. Os conteúdos a aprender surgiriam no decurso do
trabalho orientado e à medida das dúvidas e dificuldades.
Acabámos
por optar por um texto de algo que então estava em voga televisivamente: “As
lições do menino Tonecas”. Nos textos originais, escritos por Oliveira Cosme
havia mais meio século, alguns não aconteciam na sala de aula e escolhemos o
que se passava numa barbearia.
Permitia
isto diversos espaços cénicos num só lugar, vários intérpretes e várias marcações
de actores, implicando o recurso a diversas técnicas de captação, tanto de som
como de imagem e iluminação com uma só câmara. E as respectivas técnicas de
edição posterior.
Concebeu-se
um cenário minimalista no estúdio da escola, mas respeitando o conceito de
barbearia e de acordo com o texto, e tratei de encontrar os adereços
necessários à acção e ao seu complemento.
Recordo
que o mais difícil de encontrar foi uma navalha de barba. Não queria eu colocar
nas mãos daqueles jovens uma navalha real. Como se imagina, a possibilidade de
um acidente era demasiado elevada para que corresse esse risco. Mas acabei por
encontrar uma, nas mãos de um velho profissional de teatro, que sendo real
tinha-lhe sido retirado o gume. Sem perigo, portanto.
Ainda
tenho aqui por casa alguns dos que tive que então fabricar, como os frascos do
álcool e do pó de talco, com rótulos inventados como se da época se tratassem.
Tal como o lápis hemóstatico, o “Cutolinie”, usado para estancar o sangue nos
cortes do fazer a barba, (coisa que é sabido eu não usar). E mais isto e aquilo
que o texto pedia ou que os alunos sugeriram.
Aquilo
de que não nos lembrámos (ou se lembrámos não encontrámos, já não me recordo)
foi uma tesoira destas. Vital num barbeiro que se preze, pelo menos desde que
me lembro de ir ao barbeiro, que também é coisa que não faço há muito.
Pois
imagine-se a cara daquele senhora chinesa, mal falando e percebendo português,
quando entrei na sua loja um destes dias e lhe disse que queria esta tesoira.
Olhou para mim e para a embalagem no expositor umas duas ou três vezes antes de
se decidir a vender-ma. A preço de loja chinesa, entenda-se.
Pois
se um dia tiver que avançar com um projecto semelhante, esta já cá canta, tal
como a navalha de barba, que entretanto também encontrei, mas a que ainda não
tirei o gume.
Tralhas
aqui de casa!
Nota
fotográfica adicional: O complicado ao fotografar objectos metálicos polidos é
fazer com que os reflexos, em regra incómodos e a evitar, trabalhem em nosso
favor, mostrando o material que estamos a fotografar e a eventual ausência de
textura da sua superfície.
By me
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