Por muito criativos e livre-pensadores que
possamos ser, o certo é que há leis e regras das quais não conseguimos fugir.
Fotografia incluída.
E há duas leis básicas que, mesmo que não
pensemos nelas, imperam na nossa actividade: a lei do inverso do quadrado da
distância e a lei da reflexão.
Diz a primeira que a luz varia numa
proporção geométrica em função da distância e equaciona-se assim: I=1/D², em
que “I” é a intensidade e “D” a distância da fonte de luz ao ponto de medição.
Por outras palavras, se duplicarmos a distância teremos um quarto da luz e não
metade. Tal como se triplicarmos a distância teremos um nono da luz.
A segunda é igualmente simples e aprendida
nos bancos da escola: o ângulo de incidência é igual ao ângulo de reflexão. Bem
o sabemos ao olhar ou fotografar uma superfície polida, como água, metais ou
cristais.
Tanto uma como outra lei podem ser úteis ou
atrapalhar-nos a vida e convém saber dominá-las em nosso proveito.
A última vez que tive que fotografar
quadros foi a pedido de uma amiga pintora que pretendia guardá-los embrulhados
mas manter um registo para catálogo.
Haveria, assim, que os reproduzir com o
máximo de fidelidade, deixando completamente de parte qualquer abordagem
criativa ou interpretativa. O que ali importava era o trabalho da autora e eu
mais não seria que um foto-copiador rigoroso.
Duas questões básicas se levantavam: a luz
e a perspectiva. A matéria-prima e a ferramenta do fotógrafo!
Quanto à luz, haveria que respeitar as
cores e tonalidades das telas.
Fontes de luz equidistantes de um lado e do
outro do cavalete onde seriam fotografadas fariam o trabalho: garantir a
uniformidade da sua iluminação, não criando zonas de maior ou menor intensidade
luminosa. Afinal, a escolha dos brilhos e contrastes das tintas nas telas fora
escolha da autora e não minha.
No entanto, haveria que garantir um outro
aspecto subtil: sombras. Muito suaves mas perceptíveis.
Isto porque alguns dos trabalhos eram
feitos com óleo e este tem textura. E é preocupação do pintor, e sua
característica pessoal, a espessura do óleo na tela. Demonstrando a sua técnica
e dando nuances escolhidas e pretendidas. As sombras, ténues mas existentes,
demonstram-no.
Por outro lado, haveria que garantir a
fidelidade de cor. Claro que o digital permite isso com facilidade, tanto na
calibração do registo como na correspondência entre a calibração e as fontes de
luz usadas. A temperatura de cor haveria que ser fiel na captura. E na
reprodução, que é aspecto que escapa ao fotógrafo.
Para o garantir, quer a reprodução fosse
electrónica quer fosse em suporte de papel, incluí no enquadramento, um pouco
mais largo que as telas, duas tiras de teste Kodak. Uma com gama de cinzentos,
outra com escala cromática. Não importa quem ou como irá reproduzir as
fotografias. Se aqueles tons e cores, sabidos e calibrados, forem reproduzidos
correctamente, todo o quadro estará fiel.
Quanto à perspectiva, alguns aspectos
haveria que considerar.
Desde logo o haver espaço suficiente para
que a proximidade não alterasse a geometria das telas. No mínimo uns três
metros bem medidos, ou bem mais, dependendo do tamanho da tela. Nem a
perspectiva nem o recurso a uma grande angular seriam prejudiciais à fidelidade
da reprodução.
Em seguida, o garantir a perpendicularidade
da objectiva à tela, com o mesmo fito. E, aqui, um pequeno truque de algibeira
(factual) que facilita este exigência e recorre de uma das leis básicas da
óptica: o ângulo de incidência é igual ao de reflexão.
Colocando um pequeno espelho, mesmo que de
bolso, encostado à tela, considerando que as costas do espelho são paralelas à
sua superfície frontal, e garantindo que ele se encontra ao centro do quadro,
procurar o ponto onde vemos nele a reflexão da objectiva e câmara que estamos a
usar.
Nesse momento temos a certeza absoluta que
a objectiva está perpendicular ao espelho. E estando ele paralelo à tela…
O fotógrafo é um criativo na sua
actividade. Procura satisfazer a sua necessidade de reproduzir no suporte que
usa aquilo que pretende. Vendo com os olhos da cara ou com os olhos da alma.
Mas em fotografia técnica, em que é bem
mais importante o desejo do cliente que a nossa criatividade, há que saber as
regras e leis e usá-las em nosso proveito.
Por vezes, fotografar é ser um
foto-copiador. E nada de errado há nisso!
By me
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