Não
tem muito que saber:
Estou
velho, c’os pés p’ra cova, fora de moda, membro de uma geração em vias de
extinção!
À
porta do supermercado cá do meu burgo os artigos de praia que não cabem lá
dentro. Drapejando ao vento, um exemplar em exibição em cima das caixas
virgens, apelando à frescura e tranquilidade do seu uso.
Achei-lhes
graça. Mais ou menos.
O
riscado colorido desta em primeiro plano apelava à minha memória de sombras
fresca em praias quentes ou de refrescos bebidos sob frondosos pinheiros em
fins de semana quase campestres.
O
padrão da cadeira do fundo nada me disse que não fosse recordar-me de azulejos
de casa de banho, igualmente frescos em dias de calor, mas não apetecíveis para
sentar e desfrutar.
Fui
olhar com mais atenção.
A
lona é fina e as costuras antecipam poucos verões. Faz sentido, numa sociedade
de consumo como a nossa. Mas retira o prazer de, todos os anos, usarmos a nossa
cadeira favorita, que não existirá.
As
travessas de madeira têm, se a memória bem mo recorda, metade da largura das
antigas. Mais leves de transportar, mais fáceis de arrumar e menos resistentes
a corpos pesados ou brincadeiras mais pueris ou nem tanto. A tal ponto o são
que o sistema de encaixe não comporta integralmente a respectiva travessa e
teve que ser reforçado com pecinhas em plástico. Um ano? Dois anos? Nem me
atrevo a especular na sua durabilidade.
Mas
achei graça ao regresso ao passado.
Fiz
as compras que haveria de fazer e, já de saída, vejo uma das empregadas da loja
com ar de quem não tem muitos afazeres no momento. E, tendo eu um nariz mais
comprido que a minha barba, abordei-a.
Questionei-a
sobre quais as cadeiras que mais se vendem: as riscadas ou as de azulejo.
Qual
não foi a minha surpresa quando me disse que são as azulinhas. Que as de
riscado colorido quase não têm saída.
Confesso
que não me vejo a procurar a frescura e tranquilidade nas paredes de uma casa
de banho. Agora nas paredes de uma barraca de praia…
Mas
talvez seja eu que estou velho, c’os pés p’ra cova, fora de moda, membro de uma
geração em vias de extinção!
Nota
fotográfica adicional:
O
difícil mesmo foi encontrar um momento de calmaria na brisa fraca e inconstante,
por forma a conseguir aquela sombrinha em forma de barriga que demonstrasse a
curvatura do tecido em ambas as cadeiras.
Sem comentários:
Enviar um comentário