A história tem já
uns anos valentes. Mas nunca me esqueci dela, caramba!
Fora-me pedido que
concebesse um pequeno módulo sobre história do cinema e vídeo, lá na escola
onde eu trabalhava.
Não é em boa
verdade a minha área, aquela em que me sinto mais à-vontade. Mas como não
consegui convencer quem de direito a encontrar outro para tal, avancei.
Entendi que aquela
rapaziada e raparigada não estava de todo interessada em nomes e datas. Essa é
a história clássica, da qual estavam já fartos.
E abordei de outra
forma: o modo como a comunicação em cinema e vídeo evoluira, divididos em temáticas
mais ou menos estanques, e relacionando essa evolução com a evolução da cultura
e da técnica.
Deixei o conceito
convencional de “história” para outros níveis de aprendizagem, se a eles eles
quisessem aceder no futuro.
Cada tema era
ilustrado com sequências de filmes: a guerra, o policial, o romance, o
documental, o histórico… Dentro do tema romance fui bem além do que deveria,
conclui mais tarde.
Inclui uma sequência
do filme “sexo, mentiras e vídeo”, onde uma mulher contava a sua primeira
abordagem ao sexo oposto, descrevendo uma situação clássica: menina ainda da primária
e com um menino da mesma idade, mostras tu, mostro eu, mostrou ela e ele fugiu.
Descrição inócua, ingénua, quase que infantil.
No entanto, e para
surpresa minha, nessa sequência fez-se um silêncio terrível na sala, daqueles
que permitem ouvir a mosca dois pisos acima. E assustei-me.
Que estaria a
acontecer para tal?
Não me dei por
achado, continuei com o previsto – visionamentos, explicações e conversas – e guardei
a análise do fenómeno para mais tarde. E acabei por dar com a coisa.
Apesar de terem
quase o dobro da idade dos intervenientes nos factos relatos, algures entre os
14 e os 16 anos, o que ali estava descrito era vivência demasiado próxima para
a grande maioria para ser vista e entendida como eu a via e entendia: à distância.
Aquela sequência,
mesmo sendo pouco mais que infanto-juvenil, não era aplicável naqueles moldes àquelas
idades.
O módulo repetiu-se
mais dois anos com outras turmas. Aquela sequência ficou de fora, que o erro
fora meu.
Quando lidamos com
público, seja em classe, seja na imprensa, nas televisões, na net, ao vivo, temos
que adequar a mensagem e o suporte aos destinatários. Considerando a sua
capacidade de entendimento do apresentado, os diversos níveis de leitura possíveis
e as eventuais más interpretações.
Ou isso, ou
corremos o risco de a mensagem que queremos passar ficar-se pelo superficial,
muito aquém do que queremos.
Isto não será
soberba da parte de quem emite nem menosprezo para quem recebe, mas tão só um
acertar de códigos.
Aquilo que, no
fundo, queremos: comunicar.
By me
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