quarta-feira, 3 de junho de 2015

Os bilas





A história tem já uns anos valentes. Mas nunca me esqueci dela, caramba!

Fora-me pedido que concebesse um pequeno módulo sobre história do cinema e vídeo, lá na escola onde eu trabalhava.
Não é em boa verdade a minha área, aquela em que me sinto mais à-vontade. Mas como não consegui convencer quem de direito a encontrar outro para tal, avancei.
Entendi que aquela rapaziada e raparigada não estava de todo interessada em nomes e datas. Essa é a história clássica, da qual estavam já fartos.
E abordei de outra forma: o modo como a comunicação em cinema e vídeo evoluira, divididos em temáticas mais ou menos estanques, e relacionando essa evolução com a evolução da cultura e da técnica.
Deixei o conceito convencional de “história” para outros níveis de aprendizagem, se a eles eles quisessem aceder no futuro.
Cada tema era ilustrado com sequências de filmes: a guerra, o policial, o romance, o documental, o histórico… Dentro do tema romance fui bem além do que deveria, conclui mais tarde.
Inclui uma sequência do filme “sexo, mentiras e vídeo”, onde uma mulher contava a sua primeira abordagem ao sexo oposto, descrevendo uma situação clássica: menina ainda da primária e com um menino da mesma idade, mostras tu, mostro eu, mostrou ela e ele fugiu. Descrição inócua, ingénua, quase que infantil.
No entanto, e para surpresa minha, nessa sequência fez-se um silêncio terrível na sala, daqueles que permitem ouvir a mosca dois pisos acima. E assustei-me.
Que estaria a acontecer para tal?
Não me dei por achado, continuei com o previsto – visionamentos, explicações e conversas – e guardei a análise do fenómeno para mais tarde. E acabei por dar com a coisa.
Apesar de terem quase o dobro da idade dos intervenientes nos factos relatos, algures entre os 14 e os 16 anos, o que ali estava descrito era vivência demasiado próxima para a grande maioria para ser vista e entendida como eu a via e entendia: à distância.
Aquela sequência, mesmo sendo pouco mais que infanto-juvenil, não era aplicável naqueles moldes àquelas idades.
O módulo repetiu-se mais dois anos com outras turmas. Aquela sequência ficou de fora, que o erro fora meu.

Quando lidamos com público, seja em classe, seja na imprensa, nas televisões, na net, ao vivo, temos que adequar a mensagem e o suporte aos destinatários. Considerando a sua capacidade de entendimento do apresentado, os diversos níveis de leitura possíveis e as eventuais más interpretações.
Ou isso, ou corremos o risco de a mensagem que queremos passar ficar-se pelo superficial, muito aquém do que queremos.
Isto não será soberba da parte de quem emite nem menosprezo para quem recebe, mas tão só um acertar de códigos.
Aquilo que, no fundo, queremos: comunicar.

By me

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