quarta-feira, 18 de julho de 2018

Talvez iconoclasta




Leio um texto numa revista fotográfica digital/blog fotográfico em que autor faz uma crítica muto forte.
Afirma ele que fotografar mulheres bonitas de costas, na rua, não é “street photography”.
Indo mais longe, diz-nos que fazer este tipo de imagem, bem como a de crianças, que não seja pela estética fotográfica ou integrando um projecto fotográfico, mais não será que um acto de voyerismo e eticamente condenável.

Sobre isto, começo por achar que todo e qualquer fotógrafo é um voyeur e um “bem acabadinho”. E acrescento que é um cobiçador também.
Eu explico:
É um voyeur na medida em que se delicia com o que de belo ou horrendo encontra. A sua atenção está primordialmente focada nisto, quase o impedindo de participar no que o cerca, que aproveitando o belo momento, quer agindo sobre o horrendo, diminuindo-o.
É um “bem acabadinho”, cheio de regras e normas organizativas, na medida em que a sua atenção se concentra no que sai das normas. Só o incomum, bom ou mau, o atrai, ficando indiferente perante o banal, o inconsequente.
É um cobiçador porque, não podendo possuir o que vê, fotografa-o. Não pode levar  consigo o pôr-do-sol, o humano bonito, a ave do céu… Assim, e na sua substituição, guarda um ícone do que lhe fez agitar as emoções, cobiçando o que a vista e demais sentidos lhe mostraram.
Posto isto, continuo afirmando que os “fotógrafos de rua” serão tudo o acima descrito com o acréscimo de o fazerem à sorrelfa as mais das vezes. Fotografam gente, metida nas suas vidas, sem que saibam que estão a ser fotografadas. Emboscados atrás de uma objectiva potente ou escondidos atrás de uma pequena e discreta câmara, satisfazem as suas necessidades de notar o fora do comum, o seu voyreuismo e a sua cobiça sem que os seus objectos cobiçados e assim caçados disso se apercebam e sobre isso se possam pronunciar.
Por fim, não vejo grande diferença entre fotografar um ser humano de costas ou de frente sem lhe perguntar se o pode fazer. Não há, de facto, grande diferença entre apreciar e cobiçar um rabo, um par de mamas ou um peito musculado.
Não será à toa que ao acto de fotografar se diz “disparar a câmara” e o sair para fotografar aleatoriamente tem o apodo de “ir dar ao gatilho”.
A fotografia é encarada por muitos como caça. E os melhores troféus são aqueles que são caçados desprevenidos, com a naturalidade de quem vive a sua vida sem saber que estão a ser espiados e alvo de um “tiraço”.
Ainda por cima, a maior parte destes “fotógrafos” de rua não usam as suas imagens para mudar o quer que seja. Quer se trate de fazer de algo um exemplo a seguir quer se trate de uma denúncia de algo a suster.
Os seus troféus são para ser exibidos numa parede, num álbum ou, mais modernamente, nas redes sociais. São orgasmos fotográficos feito à custa dos incautos que tratam da sua vida na via pública.
Fotografar alguém de frente ou de trás, sem seu conhecimento ou consentimento é algo que, se agora tolerado ou aclamado, será socialmente condenável num futuro não muito distante.



By me

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