Leio um texto numa revista fotográfica digital/blog
fotográfico em que autor faz uma crítica muto forte.
Afirma ele que fotografar mulheres bonitas de costas, na
rua, não é “street photography”.
Indo mais longe, diz-nos que fazer este tipo de imagem, bem
como a de crianças, que não seja pela estética fotográfica ou integrando um
projecto fotográfico, mais não será que um acto de voyerismo e eticamente condenável.
Sobre isto, começo por achar que todo e qualquer fotógrafo é
um voyeur e um “bem acabadinho”. E acrescento que é um cobiçador também.
Eu explico:
É um voyeur na medida em que se delicia com o que de belo ou
horrendo encontra. A sua atenção está primordialmente focada nisto, quase o
impedindo de participar no que o cerca, que aproveitando o belo momento, quer
agindo sobre o horrendo, diminuindo-o.
É um “bem acabadinho”, cheio de regras e normas
organizativas, na medida em que a sua atenção se concentra no que sai das
normas. Só o incomum, bom ou mau, o atrai, ficando indiferente perante o banal,
o inconsequente.
É um cobiçador porque, não podendo possuir o que vê,
fotografa-o. Não pode levar consigo o pôr-do-sol,
o humano bonito, a ave do céu… Assim, e na sua substituição, guarda um ícone do
que lhe fez agitar as emoções, cobiçando o que a vista e demais sentidos lhe
mostraram.
Posto isto, continuo afirmando que os “fotógrafos de rua”
serão tudo o acima descrito com o acréscimo de o fazerem à sorrelfa as mais das
vezes. Fotografam gente, metida nas suas vidas, sem que saibam que estão a ser
fotografadas. Emboscados atrás de uma objectiva potente ou escondidos atrás de
uma pequena e discreta câmara, satisfazem as suas necessidades de notar o fora
do comum, o seu voyreuismo e a sua cobiça sem que os seus objectos cobiçados e
assim caçados disso se apercebam e sobre isso se possam pronunciar.
Por fim, não vejo grande diferença entre fotografar um ser
humano de costas ou de frente sem lhe perguntar se o pode fazer. Não há, de
facto, grande diferença entre apreciar e cobiçar um rabo, um par de mamas ou um
peito musculado.
Não será à toa que ao acto de fotografar se diz “disparar a
câmara” e o sair para fotografar aleatoriamente tem o apodo de “ir dar ao
gatilho”.
A fotografia é encarada por muitos como caça. E os melhores
troféus são aqueles que são caçados desprevenidos, com a naturalidade de quem
vive a sua vida sem saber que estão a ser espiados e alvo de um “tiraço”.
Ainda por cima, a maior parte destes “fotógrafos” de rua não
usam as suas imagens para mudar o quer que seja. Quer se trate de fazer de algo
um exemplo a seguir quer se trate de uma denúncia de algo a suster.
Os seus troféus são para ser exibidos numa parede, num álbum
ou, mais modernamente, nas redes sociais. São orgasmos fotográficos feito à
custa dos incautos que tratam da sua vida na via pública.
Fotografar alguém de frente ou de trás, sem seu conhecimento
ou consentimento é algo que, se agora tolerado ou aclamado, será socialmente
condenável num futuro não muito distante.
By me
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