sexta-feira, 20 de julho de 2018

Étcas e ironias



Esta fotografia foi feita nos inícios da minha autonomia fotográfica. 
E foi um marco vital nesta minha actividade.

Tinha eu laboratório à disposição, a película comprava-a a metro e os químicos e papeis não eram assim tão caros. Desde que em preto e branco, que a fotografia a cores era um outro campeonato.
E tinha o mundo à minha disposição para registar. E registei! O que pude, o que quis, o que me pediram.
Lembro-me de a fazer: no bairro de Alvalade, em Lisboa, na manhã de um 24 de Dezembro. E lembro de, na altura, algo me ter batido forte.
Tal como me lembro de, mais tarde junto ao ampliador e olhando a prancheta branca, me ter questionado sobre a legitimidade de a ter feito. Questão essa que foi aumentando à medida que os halogenetos de prata foram escurecendo na tina do revelador. 
Ainda hoje me questiono. 
Este Dezembro, tantos anos depois, fui em busca do retratado. 
Suspeitava eu que poderia ser uma de duas pessoas, ainda hoje vendendo na rua e na zona. Não eram. 

Depois desta fotografia tenho pensado muito seriamente no direito que nós, possuidores de uma câmara fotográfica, temos em fazer registos de gente anónima, sem lhe perguntar se o podemos fazer ou se podemos divulgar. 
A minha opinião, que se formou nesse distante Natal, é que não! Não temos o direito de assim entramos na intimidade de terceiros, divulgando-o ao mundo na imprensa, nas galerias ou na net.
A vida de cada um a ele pertence e a minha câmara não é uma arma de caçar troféus na selva de betão que são as cidades.

Entendo que a fotografia em preto e branco é um caso particular da fotografia.
Não a tenho por melhor ou pior que a fotografia colorida, apenas se adequa ou não nalguns casos. Como as cores saturadas, como as High Key, como as silhuetas…

By me

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