Eu tinha 17 anos.
Pôs-se a possibilidade de ir em viagem de finalistas a
Londres. A família não era abastada, longe disso, e não havia dinheiro para
tais aventuras, mas com boas-vontades daqui e dali a coisa compôs-se. Incluindo
a ajuda da família da minha namorada, que queria que eu fosse com ela.
O que não havia era como fazer o “para mais tarde recordar”.
Eu tinha uma câmara desde os doze anos, mas fazer fotografia era caro e estava
parada havia muito tempo. E era muito fracota. É muito fracota, que ainda a
possuo.
Um parente decidiu chegar-se à frente e emprestar-me a sua.
Recordo que era uma SLR mas não a marca. E possuía uma 50mm, mais que
suficiente para os registos, digam hoje o que disserem sobre zooms e edições posteriores.
No dia em que me foi entregue (recordo o local exacto, a
luz, a sombra da frondosa árvore, a mesa e os bancos de pedra) foi-me dada uma
recomendação, entre outras, que não esqueci até hoje:
“Toma cuidado que ela só faz fotografias a cores!”
Quem ma emprestou já morreu, que o episódio é velho. As
fotografias que fiz foram a cores e estão algures no arquivo, numa caixa que
não sei qual. Já não olho para elas há anos e tenho a vaga memória de estarem
rosadas, naquele tom de fotografias coloridas e mal processadas, em que a luz e
a humidade são carrascos impiedosos.
E nunca virei a saber se esse meu primo, bem mais velho que
eu, estaria a falar a sério se na brincadeira. Segui as suas indicações mas, na
minha enorme ignorância sobre fotografia, aquela recomendação nunca me
convenceu por aí além.
Anos mais tarde, já a fotografia fazia parte integrante da
minha vida, disse-me uma senhora numa loja de fotógrafo em Castelo Branco que
os rolos em Preto e Branco já não se fabricavam. E que não tinham. E eu, que
tinha esgotado os que havia trazido de casa naquelas férias vadiando pelo país,
acabei por ir comprar num dos outros poucos fotógrafos que a cidade tinha,
ainda que tivesse penado para o encontrar.
Talvez que tivessem andado juntos na escola, aquela senhora
e aquele meu primo, ainda que a geografia não o indicasse.
Vadiei pelo Preto e Branco durante anos. Porque o
laboratório era meu, porque bem mais barato, porque o Ansel Adams era (e é) um
mestre a tentar imitar.
Mas percebi, a dado passo, que o suporte e a técnica têm que
ser usados em função daquilo que queremos transmitir e não podem ser
limitadores do que queremos fazer.
Tenho para mim que a vida é a cores, que reagimos a elas
como os cães aos cheiros, e é isso e dessa forma que quero mostrar.
O monocromatismo é apenas uma dessas formas.
By me
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