sexta-feira, 20 de julho de 2018

Raízes




A cadeia de lojas de refeições rápidas MacDonalds tem uns ecrãs de computador em algumas mesas.
Suponho que o investimento se tenha justificado com o manter as crianças mais calmas e entretidas, enquanto os adultos terminam as suas refeições. E, quem sabe, estes se levantem e vão buscar mais qualquer coisa ao balcão. Isto porque a página de entrada é, por aquilo que tenho percebido, relativa a jogos infantis e afins.
Mas poderá ter outros usos.
Um destes dias, numa dessas lojas e num momento tranquilo a meio da tarde, dois desses ecrãs estavam ocupados. Nada de crianças mas por um adolescente e um jovem adulto. Cada um no seu.
Tinham conseguido aceder a um site que exibia um filme na sua língua natal, indiano, estavam deliciados a ver e ouvir a pantalha.
O aspecto que possuíam, não sendo andrajoso nem muito sujo, indiciava notória falta de recursos. E não me espantaria de os ver, juntos ou separados, a arrumar carros num parqueamento ou sentados com um cartão a pedir esmola em frente a um restaurante ou igreja. Aquilo que conhecemos.
Mas também consigo entender – e entenderia mesmo sem ter visto o que vi – a satisfação deles por estarem a ver e ouvir aquilo.
Presumivelmente sem recursos para acederem a canais indianos (satélite ou por cabo), o acesso à língua e cultura materna ser-lhes-á apenas possível de quando em vez e nestas circunstâncias. Ou em casa de algum conterrâneo mais afortunado.
Imagine-se o que teria sido para os nossos migrantes se, no tempo da “mala de cartão”, os canais portugueses tivessem a difusão que têm hoje.



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