Morreu Manoel Caetano.
Pouco importa as simpatias ou antipatias que se pudessem ter
pela pessoa, tanto pelo seu trabalho como pelas eventuais ligações que pudesse
ter tido com o antigo regime. Por opção ou apenas por questões de laços de parentesco.
O certo é que foi figura conhecida no pequeno ecrã de antes
e de depois da revolução.
Soube-o quase que por mero acaso e fui dar um “voltinha”
pela comunicação social para saber o que se dizia sobre ele.
Constatei que a agência Lusa tinha emitido umas poucas
linhas informativas de obituário e exéquias e que elas foram replicadas por
todos ou quase todos os jornais. “Ipsis verbis” ou alterando a sua ordem sem
acréscimos.
Não vi nenhum que tivesse feito um trabalho sobre ele,
pesquisando a sua vida ou recolhendo testemunhos. Nem mesmo as estações de televisão
se deram a esse trabalho, limitando-se a recorrer a imagens de arquivo.
A única nota pública que o tratou diferentemente encontrei-a
no site da presidência da República: duas linhas de lamento e condolências à
família. Ponto final.
Não me recordo de me ter cruzado com ele na minha infância
ou juventude. É muito provável que sim, considerando diversos factores. Sei que
me cruzei com ele profissionalmente há uns anos. E recordo a emoção de ter
estado, assim tão de perto, com uma figura que entrava em minha casa pela
janela aberta para o mundo todos os dias. Emoção rara, considerando o meu
ofício e todos aqueles que já passaram pela minha objectiva.
O passado não se apaga. Podemos gostar ou não dele, podemos
tê-lo relegado para aquele canto da memória ou dos arquivos onde não queremos
mexer. Mas não se apaga.
É pena tratar-se o passado com a displicência deste caso. A
notícia foi dada quase como que se de um frete se tratasse, uma obrigação
legal.
Considerando a emoção com que outras mortes são tratadas por
jornalistas e jornaleiros, goste-se ou não do Manoel Caetano, ou bem que se lhe
dava a relevância que teve em Portugal ou bem que se podia nem abordar o
assunto da sua morte.
By me
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