quinta-feira, 19 de julho de 2018

Cartas de amor




As cartas de amor são sempre estúpidas. E fúteis. E tolas.
Tentam pôr por palavras aquilo para que ainda não se encontraram palavras, tentam organizar sentimentos desorganizados, tentam materializar o imaterial.
As cartas de amor, para além de estúpidas, fúteis e tolas, também são algo que escrevemos, uma ou várias vezes na vida. Com a caneta, com as teclas, com a luz. As cartas de amor são escritas de acordo com o que cada um sabe ou pode fazer.
As cartas de amor, para além de estúpidas e fúteis e tolas e múltiplas, são também inúteis. Que ninguém se apaixona pelas cartas de amor que recebe. Nem ninguém se apaixona pelas cartas de amor que escreve.
As cartas de amor, para além de estúpidas e fúteis e tolas e múltiplas e inúteis, são também perigosas. Que uma carta de amor fica, para além do tempo. E mesmo que queimada, rasgada, apagada, palavras e sentimentos não se apagam. O que lá estiver, não importa como, fica para sempre gravado. Em quem leu e em quem escreveu. E o que se sente depois de ler ou de escrever, por muitas tolices e inutilidades e futilidades que se digam, pode ser bom ou mau, dependendo do tempo que passou e das cartas que, entretanto, se escreveram ou leram.
Apesar de tudo, as cartas de amor são magníficas, mesmo que estúpidas e fúteis e inúteis e tolas e perigosas. De escrever e de receber.
Quase tão boas quanto amar!

By me

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