Leio uma crónica num jornal, bem escrita, quase
ridicularizando as colónias e aftershave “Old Spice”.
Fiquei escandalizado!
O tom que é usado, mesmo algumas citações e referências,
atiram o consumo deste produto, e alguns outros da mesma época, para o
conservadorismo bacoco.
Aceito que se tenha esta opinião, mas gostaria de contrapor
outra.
Durante anos a fio fui consumidor deste produto. Era caro e
eu, que até nem sou muito de usar cosméticos e aromas, fui-o tendo para usar de
quando em vez, quando me apetecesse cheirar a alguma coisa. Herdei o gosto pelo
aroma de família, identifiquei-me com ele e nunca senti necessidade de o mudar.
Afinal, com o passar dos tempos, aquele era o meu cheiro ocasional.
Até que…
Até que um dia, faz já algum tempo, em constatando que o
frasco icónico estava a chegar ao fim (por ser opaco só se dá por isso quando
começa a ser difícil o extrair as gotas odoríferas) decidi que ao passar pelo
lugar onde habitualmente o comprava, haveria de trazer um.
Qual não foi a minha surpresa quando, algum tempo depois,
abri o novo e me apercebi que não cheirava ao mesmo. Fui comparar com o
restinho que ainda tinha e, apesar de fumador e sem ter o olfacto muito
apurado, confirmei-o. Haviam mudado a fórmula e o resultante aroma.
Não gostei. Nem um nico. Afinal, o “meu cheiro” havia mudado
por imposição de um fabricante, não por decisão minha.
Zanguei-me com a marca e não mais a comprei. Aliás,
considerando a raridade com que usava tal tipo de produto, um frasco durava
anos. Zanguei-me com a marca e com o uso de aromas e até hoje continuo a não os
usar só para serem aromas.
O que me incomodou na crónica, e me fez saltar a faísca para
estas linhas, foi a consideração de que manter um aroma, mesmo que antigo, seja
sinal de conservadorismo.
Caramba! Sei que as modas o propalam, aromas, vestuário, até
cortes de pelo, até à exaustão, tentando que, com novos produtos, aumentem as
vendas. Ou não as façam decair.
Mas se as roupas se vão estragando e haverá que as
substituir, os aromas de cada um são como que uma espécie de identidade,
artificiais ou naturais. Cada pessoa tem o seu próprio aroma natural e animal
que o identifica. Tal como os cães, os cavalos e todos os outros animais. E
eles usam o olfacto para identificar indivíduos. Tal como nós.
Com a diferença que a mudança de aroma artificial é como que
uma mudança de personalidade, um querer parecer outra coisa que não o próprio
(ou própria).
Todos os anos, nas campanhas natalícias, tentam convencer os
potenciais consumidores a comprarem novos aromas. Sedutores, afirmam.
Identificadores, confirmam.
A questão é saber se será mesmo necessário ser artificialmente
sedutor. Ou se fará sentido mudar de identidade. Até porque uma coisa será ter mesmo
necessidade disso, outra o fazer crer que se tem necessidade disso.
Infelizmente, a nossa sociedade de consumo impõe essa
necessidade. Através de publicidades, através de crónicas, através de mudanças
de produto. Que tanto acontecem nos aftershaves e nas colónias como nos
desodorizantes.
E fico furioso quando, em sendo altura de comprar um novo,
constato que deixaram de fabricar o aroma que me havia convencido e adoptado
como meu. A alternativa tem passado por testar no local e tentar encontrar um
aroma que me convença. Um novo aroma que me convença e com o qual me
identifique.
E não se trata de conservadorismo, aromático ou outro. É
mesmo uma questão de identidade. Sei quem sou e não preciso que um ou vários
fabricantes me digam quem devo ser! Ou quem devo parecer ser!
Quando não, quero mudar o meu número nacional de cidadão.
Gosto de capicuas e quero ter uma! Afinal, se posso mudar de identidade, se me
impõem a mudança, porque não neste campo?
By me
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