Há por aí muita
boa gente que se congratula com o facto de ter sido a França e não a Croácia a
ganhar o título de campeão mundial de futebol.
E essa sua
satisfação prende-se com coisas que em nada têm a ver com o jogo de bola mas
antes com questões meramente políticas, referindo as tendências da Croácia e de
alguns dos seus jogadores e dirigentes políticos.
Estão erradas
estas pessoas!
Por um lado, estão
a misturar política com aquilo a que chamamos de “desporto”, pese embora ser
uma indústria que movimenta muitos milhões.
Em seguida, e não
pondo em xeque aquilo que de possam acusar as Croácia e os croatas, a França
também não é flor que se cheire.
Recorde-se, por
exemplo, do recente caso do navio com resgatados, cujo desembarque foi recusado
na Itália e que acabaram por ir para Espanha. A França estava a meio caminho e
ninguém a ouviu pronunciar-se sobre o assunto, oferecendo os seus portos para a
acção humanitária.
Recorde-se, por
exemplo, a forma como expulsou uns milhares de Romani do seu território,
demolindo de súbito as suas casas e acampamentos e embarcando-os em camionetas
para os despejar na fronteira. Indo ao ponto de mandar policias buscar os
respectivos filhos às escolas a meio das aulas. Uns poucos degraus apenas
abaixo do que está a acontecer com os migrantes ilegais nos EUA.
Recorde-se, por
exemplo, na forma como ainda não sabe conviver com os pieds noire, os que
fugiram do norte de África aquando da violenta descolonização francesa. Continuam,
hoje, a viver em quase ghetos, marginalizados e auto-marginalizados, com perspectivas
de futuro reduzidas e as consequentes marginalidades.
Recorde-se, por
exemplo, como a França mantém um corpo militar de mercenários no activo, sendo
os primeiros a serem enviados quando há que intervir fora de fronteiras. Excepção
feita, claro, quando integrados nos capacetes azuis, que são observados pela
comunidade internacional. Os relatos dos comportamentos dos militares da Legião
Estrangeira quando no exterior são muito pouco dignificantes para a classe
castrense, mas são mantidos no activo.
Recorde-se, por
exemplo, como a França recusou assinar o acordo de não proliferação de armas
nucleares enquanto não testou com sucesso as suas próprias armas no oceano pacífico,
deixando por lá os resíduos dos seus testes. No quintal dos outros.
Recorde-se, por
exemplo, o gradual aumento dos resultados eleitorais da Frente Nacional,
demonstrando, para além de qualquer dúvida, as tendências muito pouco
humanistas dos eleitores gauleses.
Não se poderá
dizer que a França seja um país nazi ou de extrema-direita. Ou que possa ser
igualado à Croácia.
Mas não são
meninos de coro nem flores que se cheirem.
Devemos à França a
sua revolução, bem como o que aconteceu em Maio de 68. Mas há que ter cautelas
com aquilo que realmente é hoje e em relação ao que se está a transformar.
E confundir
futebol com política é como confundir aguardente com água de rosas.
Tentem lavar as
partes baixas com uma e com outra e depois contem-me.
By me
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