terça-feira, 17 de julho de 2018

Confusões




Há por aí muita boa gente que se congratula com o facto de ter sido a França e não a Croácia a ganhar o título de campeão mundial de futebol.
E essa sua satisfação prende-se com coisas que em nada têm a ver com o jogo de bola mas antes com questões meramente políticas, referindo as tendências da Croácia e de alguns dos seus jogadores e dirigentes políticos.
Estão erradas estas pessoas!
Por um lado, estão a misturar política com aquilo a que chamamos de “desporto”, pese embora ser uma indústria que movimenta muitos milhões.
Em seguida, e não pondo em xeque aquilo que de possam acusar as Croácia e os croatas, a França também não é flor que se cheire.
Recorde-se, por exemplo, do recente caso do navio com resgatados, cujo desembarque foi recusado na Itália e que acabaram por ir para Espanha. A França estava a meio caminho e ninguém a ouviu pronunciar-se sobre o assunto, oferecendo os seus portos para a acção humanitária.
Recorde-se, por exemplo, a forma como expulsou uns milhares de Romani do seu território, demolindo de súbito as suas casas e acampamentos e embarcando-os em camionetas para os despejar na fronteira. Indo ao ponto de mandar policias buscar os respectivos filhos às escolas a meio das aulas. Uns poucos degraus apenas abaixo do que está a acontecer com os migrantes ilegais nos EUA.
Recorde-se, por exemplo, na forma como ainda não sabe conviver com os pieds noire, os que fugiram do norte de África aquando da violenta descolonização francesa. Continuam, hoje, a viver em quase ghetos, marginalizados e auto-marginalizados, com perspectivas de futuro reduzidas e as consequentes marginalidades.
Recorde-se, por exemplo, como a França mantém um corpo militar de mercenários no activo, sendo os primeiros a serem enviados quando há que intervir fora de fronteiras. Excepção feita, claro, quando integrados nos capacetes azuis, que são observados pela comunidade internacional. Os relatos dos comportamentos dos militares da Legião Estrangeira quando no exterior são muito pouco dignificantes para a classe castrense, mas são mantidos no activo.
Recorde-se, por exemplo, como a França recusou assinar o acordo de não proliferação de armas nucleares enquanto não testou com sucesso as suas próprias armas no oceano pacífico, deixando por lá os resíduos dos seus testes. No quintal dos outros.
Recorde-se, por exemplo, o gradual aumento dos resultados eleitorais da Frente Nacional, demonstrando, para além de qualquer dúvida, as tendências muito pouco humanistas dos eleitores gauleses.

Não se poderá dizer que a França seja um país nazi ou de extrema-direita. Ou que possa ser igualado à Croácia.
Mas não são meninos de coro nem flores que se cheirem.
Devemos à França a sua revolução, bem como o que aconteceu em Maio de 68. Mas há que ter cautelas com aquilo que realmente é hoje e em relação ao que se está a transformar.
E confundir futebol com política é como confundir aguardente com água de rosas.
Tentem lavar as partes baixas com uma e com outra e depois contem-me.



By me

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