É uma daquelas histórias ou estórias que não me canso de ir
contando.
O meu tio Artur era uma figura impar. Era meu tio-avô, o que
faz dele alguém de outras épocas. Tecnológica e socialmente.
Do que dele recordo, e recordo alguns episódios em primeira
mão ou contados na família, lembro agora este:
Tinha ele uma agenda. Nada de especial nisto. Era uma
daquelas grandes, de secretária, com capa de couro e que todos os anos
implicava algum tempo para mudar o recheio e copiar para o novo as informações
pertinentes do ano anterior. Coisa que ele fazia.
Tinha-a pousada num pequeno móvel, junto à porta de casa,
tal como o telefone e as listas telefónicas. A pessoal e as que eram distribuídas
anualmente.
Pois o meu tio Artur todos os dias consultava a sua agenda
antes de sair e, se fosse o caso, descia a rua até à esquina, entrava na
estação de correios que ainda lá está e enviava um telegrama. Um telegrama de
parabéns a quem quer que conhecesse e constasse na sua agenda.
Um acto personalizado, decisão consciente e voluntária,
querendo com isto fazer saber que aquela ou aquelas pessoas não estavam
esquecidas. E custava-lhe algum dinheiro.
Nos tempos que correm, as redes sociais encarregam-se de nos
lembrar e somos incitados e dizer algumas palavras de circunstância para
pessoas que, tantas vezes, não conhecemos de outro mundo que não o virtual. Tão
virtual quanto a sinceridade dos votos automáticos assim enviados.
Por mim, deixei de usar agenda faz tempo. A maior parte das
anotações de que necessito guardo-as de outra forma e é algo que não preciso de
transportar.
E não sou defensor de se dar os parabéns por um acto do
qual nem sequer se é responsável, como será o caso do aniversário. Dos outros
ou do meu.
Em qualquer dos casos, acho bonito que se tenha um gesto
personalizado caso se o queira fazer. Coisa rara, nos tempos que correm.
Mas o meu tio Artur era de outros tempos.
E sendo certo que não sei a sua data de aniversário e que já
por cá não está ninguém a quem o possa perguntar, aqui fica uma referência
personalizada, que talvez lhe chegue ao conhecimento, sem importar a data. Onde
quer que esteja.
By me
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