segunda-feira, 2 de julho de 2018

“A vida não é um instante!”




Esta afirmação, vinda de quem tem a fotografia (“o instante decisivo”, como disse o mestre) como sendo o alimento da alma será estranha.
Mas a verdade é que cada instante da vida é precedido de toda uma existência, do próprio e de tudo o mais, que condiciona o que acontece naquele instante. E tudo o que se lhe segue é condicionado por aquele instante.
Sou “acusado” de muito contar e relatar em torno de instantes. Contextualizo, refiro a história, descrevo pormenores…
Mas a verdade é que se eu contar que deixei cair uma pedra da janela e acertou num carro em baixo contei o facto. E nada mais. Um pouco à imagem do jornalismo contemporâneo.
Mas é sempre importante saber porque tinha eu a pedra na mão, como foi ela para a minha casa, que tipo de pedra se tratava… Tal como que tipo e idade do carro, porque ou como estava ele sob a minha janela, quais as consequências ou danos…
O instante fotográfico é delicioso. O conseguir captar numa fracção de segundo algo de belo (ou horrendo) que faça passar emoções é o objectivo do fotógrafo. Mas talvez por isso eu não seja um bom fotógrafo.
Esse instante da vida que registo não me chega. O climax ou orgasmo fotográfico é insuficiente para descrever todas as emoções que sinto. As do instante, as que antecederam e as que lhe sucederam.
Posso, talvez, fazer fotografias bonitas. Mas não contam tudo o que quero contar.
Por essa incapacidade minha, acabei por me tornar naquilo a que chamo de fotocronista: completo a imagem com palavras, inscrevendo-a num contexto mais abrangente e completo.
Tal como nos “discursos”, em que para além dos factos, nus e crus, necessito da contextualização, da envolvência temporal e factual, para completar a mensagem.

Serei uma seca nas conversas que tenho e naquilo que escrevo. Mas sou genuíno. E, mais que instantes, interessa-me a vida.


By me

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