Sobre a polémica instalada: “Os Maias”.
Não o li no liceu. Era obrigatório mas não o li. Os tempos
eram outros, os apelos da vida mais que hoje, era proibido obrigar e os
primeiros capítulos enfadaram-me para além do suportável. Não o li.
Safou-me, nos testes e no exame os excelentes apontamentos
que a professora nos havia dado. Apesar de o exame ter sido um fiasco. Se hoje
alguém respondesse como então respondi…
Anos depois, muitos anos depois, peguei nele. Mais por graça
que por vontade, disse para comigo um dia: “Olha! Está aqui há que tempos e
nunca o li. É agora!”
E foi! Foi de uma assentada.
Enfrentei o início como algo que tinha que ser feito e
deliciei-me com o que se lhe seguiu, contextualizado que estava na época, nos
personagens, no arranque para o enredo.
Foi a escrita, a forma de expor ideias e acontecimentos, que
me prendeu. Não o enredo entre personagens, que isso tem qualquer novela ou
literatura de cordel. Foi a literatura e o mundo ali contado.
Não creio que haja um momento certo para a literatura. Cada
um, fruto da experiência, da personalidade e da imaginação, lida com a
literatura de seu modo. Uns mais cedo, outros mais tarde.
O papel dos professores, cumprindo um programa, é destaparem
o belo da literatura, mesmo que ela descreva mundos sem redes sociais. Melhor:
com outras redes sociais e outras realidades.
A importância dos escritos é darem-nos a conhecer outras
formas de pensar e de viver, mesmo que não concordemos com elas. E de sonhar.
Mas é esse sonho, esse conhecimento de outras realidades,
que nos permite melhor coexistir com a que temos. Eventualmente ajustando-a em
função dos nossos ideais. Idealmente ajustando-a com os nossos ideais.
Não li “Os Maias” quando era obrigatório. Mas deliciei-me
quando o fiz.
Mas eu sou do contra.
By me
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