As
tradições são isso mesmo: tradições.
Assim,
e mantendo as tradições, aqui fica uma estórinha da quadra natalícia que,
tradicionalmente, conto nesta altura.
A
tradição familiar dizia que o Menino Jesus descia pela chaminé para pôr prendas
no sapatinho.
Assim,
depois do jantar, a cozinha era imaculadamente arranjada, o fogão forrado com
papéis “bonitos” e os sapatos colocados em cima deles.
Na
manhã de natal os pequenos, depois de toda a família acordada, eram autorizados
a entrar na cozinha onde, para deslumbre total, lá estavam os presentes.
Poucos, que os sapatos eram muitos, mas apetecidos e apreciados.
O
mais velho dos quatro foi, naturalmente, o primeiro a ser informado da
verdadeira história e a ser incluído na cerimónia da colocação das prendas.
Depois do fogão decorado e os mais pequenos terem recolhido à cama, foi a sua
vez de colocar as prendas para toda a família, indo então deitar-se, que não
poderia ver as que lhe eram destinadas antes dos outros acordarem.
Acordou
ele a meio da noite, com vontade de urinar, e dirigiu-se à casa de banho. Mas
logo lhe passou a vontade.
Com
receio que furasse o bloqueio à cozinha, tinham atado uma cadeira com tachos e panelas
ao puxador da porta do seu quarto. Quando a abriu, tudo se espalhou pelo chão,
acordando a casa por inteiro.
Não
me recordo, ao certo, qual ou quais as prendas que recebi nesse ano. Tenho a
vaga ideia de ter sido um “Renault 16” do “Tour de France” que esventrei e em
cujo interior coloquei um pesado íman de bicicleta. Com ele ganhava toda as
provas de todo-o-terreno que na rua se faziam.
Mas
ainda hoje, quando a família se reúne, ninguém me acredita que, então, só
queria mesmo ir à casa de banho.
By me
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