Era preta. Mas, de
pálida que estava, quase parecia branca.
Sentada num dos
bancos do cais ferroviário, estava cercada pois dois agentes da PSP, ali de
serviço, e por dois civis, um novo, outro já entradote, que tinham aspecto de
saber o que estavam a fazer.
Em redor, a alguma
distância mas o suficiente para não perderem pitada, os mirones do costume.
Que, como eu, tinham saído da sua carruagem ao ouvirem o maquinista avisar os
passageiros que o comboio ficaria ali retido, por motivo de doença súbita, até à
chegada do 112.
Saí eu porque se
anunciava uma espera medianamente prolongada e um cigarrito ajudaria a matar o
tempo. E saí eu na expectativa que a composição que, entretanto, haveria de
entrar na outra linha não bloqueada, me haveria de livrar de chegar atrasado ao
trabalho. Que ainda nem eram oito da manhã.
Claro está que
estas circunstâncias anómalas provocam sempre comentários e conversas de ocasião.
Quantas vezes entre desconhecidos. Não me apeteceu fazê-lo. Que, se o fizesse,
não seria de forma alguma gentil para com o ou os meus interlocutores.
O teor do que se
ouvia era deste género, que fixei pelo seu extremo:
“Dasse! Vêm para
aqui, metem-se no comboio sem nada no estômago, sabe-se lá quando é que comeram
e nós é que nos quilhamos. F***-se!”
Qualquer observação
que fizesse eu seria p’ra lhes meter a barriga p’ra dentro até que conseguissem
ver algo mais que apenas o seu umbigo. Que tendo eles reconhecido a eventual
razão de ser da situação, mais que preocupados com ela, cuidavam era da sua própria
vida.
E, nos
entretantos, o mais novo dos civis que de volta da senhora estava, tinha aberto
a sua própria mochila e dela retirara um sumo empacotado e estava a dá-lo a quem
ali assim estava sentada.
Dasse p’ra aqueles
passageiros que têm o seu mundinho como o centro do universo! Palmas p’ra
aqueles que deram do seu próprio lanche!
Viva quem faz!
By me
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