Dou
uma olhada nos jornais de hoje, ainda que ao fim da tarde.
Notícia
comum a todos os que vi, nuns mais acima, noutros a meio: “Morreu a lontra Amália”.
De
acordo com o que li, a Amália morreu de velhice.
E
acrescentam os jornais que Amália era um ícone do oceanário de Lisboa, tendo
sido vista por muitos milhares ou milhões de visitantes.
Certo!
Vou dar de barato que, de uma forma ou de outra, isto seja notícia de primeira
página.
Mas
é igualmente verdade que eu, que costumo seguir as notícias por devoção e por
obrigação, nunca oiço falar nas mortes por suicídio.
Bem:
nunca é um exagero. Hoje um jornal conta-nos que a fotógrafa francesa Kate Barry
morreu na sequência de uma queda de um quarto andar e que no interior do
apartamento foram encontrados anti-depressivos. O termo “suicídio” não aparece
no texto.
Mas,
e muito curiosamente, o bispo da diocese Bragança-Miranda alertou hoje mesmo
sobre o aumento do número de casos no nordeste transmontano.
E,
tão insuspeito quanto ele, um colega avançou-me hoje que começa a ser frequente
carros parados e “abandonados” a meio da ponte 25 de Abril em Lisboa. Onde não é
suposto haver tal.
Tal
como eu próprio tenho ficado retido na linha de Sintra devido a “acidente” na
via, em zonas onde não há passagem de peões e a via está vedada com uma cerca
de rede sólida.
É
importante a morte da Amália? Será! Para o oceanário e para todos os que a
viram ali mesmo presa, numa felicidade ausente de liberdade.
Mas
será mais importante que todos ou cada um dos que decidem por termo à vida? E são
cada vez mais os casos?
Claro
que faz sentido fazer descer um véu pudico sobre a privacidade de cada um deles.
Afinal, a vida era deles e poderiam fazer dela o que entendessem.
Mas
os jornalistas não são conhecidos por serem respeitadores da privacidade dos
cidadãos, violando-a sempre que isso justificar um aumento de audiências ou
tiragens.
Também
fará sentido, eventualmente, manter esses casos longe dos olhos e ouvidos dos
cidadãos, não aconteça que sirvam de exemplo para outros. Mas se falamos de
comportamentos e de exemplos, deveríamos retirar das páginas e das antenas a
maior parte do que se conta sobre governantes e seus desempenhos, que não são
eles, garantidamente, exemplos a seguir de seriedade ou de cumprimento da
palavra dada.
Como
dizia alguém:
“Uma
morte é tragédia. Cinquenta mortes é estatística”.
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