quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

A morte da lontra; ou outras



Dou uma olhada nos jornais de hoje, ainda que ao fim da tarde.
Notícia comum a todos os que vi, nuns mais acima, noutros a meio: “Morreu a lontra Amália”.
De acordo com o que li, a Amália morreu de velhice.
E acrescentam os jornais que Amália era um ícone do oceanário de Lisboa, tendo sido vista por muitos milhares ou milhões de visitantes.
Certo! Vou dar de barato que, de uma forma ou de outra, isto seja notícia de primeira página.
Mas é igualmente verdade que eu, que costumo seguir as notícias por devoção e por obrigação, nunca oiço falar nas mortes por suicídio.
Bem: nunca é um exagero. Hoje um jornal conta-nos que a fotógrafa francesa Kate Barry morreu na sequência de uma queda de um quarto andar e que no interior do apartamento foram encontrados anti-depressivos. O termo “suicídio” não aparece no texto.
Mas, e muito curiosamente, o bispo da diocese Bragança-Miranda alertou hoje mesmo sobre o aumento do número de casos no nordeste transmontano.
E, tão insuspeito quanto ele, um colega avançou-me hoje que começa a ser frequente carros parados e “abandonados” a meio da ponte 25 de Abril em Lisboa. Onde não é suposto haver tal.
Tal como eu próprio tenho ficado retido na linha de Sintra devido a “acidente” na via, em zonas onde não há passagem de peões e a via está vedada com uma cerca de rede sólida.

É importante a morte da Amália? Será! Para o oceanário e para todos os que a viram ali mesmo presa, numa felicidade ausente de liberdade.
Mas será mais importante que todos ou cada um dos que decidem por termo à vida? E são cada vez mais os casos?
Claro que faz sentido fazer descer um véu pudico sobre a privacidade de cada um deles. Afinal, a vida era deles e poderiam fazer dela o que entendessem.
Mas os jornalistas não são conhecidos por serem respeitadores da privacidade dos cidadãos, violando-a sempre que isso justificar um aumento de audiências ou tiragens.
Também fará sentido, eventualmente, manter esses casos longe dos olhos e ouvidos dos cidadãos, não aconteça que sirvam de exemplo para outros. Mas se falamos de comportamentos e de exemplos, deveríamos retirar das páginas e das antenas a maior parte do que se conta sobre governantes e seus desempenhos, que não são eles, garantidamente, exemplos a seguir de seriedade ou de cumprimento da palavra dada.

Como dizia alguém:

“Uma morte é tragédia. Cinquenta mortes é estatística”.

By me

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