A janela da minha
cozinha está sempre aberta.
Bem: “sempre” e “nunca”
são demasiado definitivos para serem usados. A expressão correcta será “quase
sempre”. A excepção é quando está demasiado frio ou vento muito, muito forte.
Por outras
palavras, a janela da minha cozinha está fechada dois ou três dias por ano.
Quanto ao resto,
ou está escancarada ou exibe uma fresta ventiladora.
Por isso mesmo, não
é de estranhar que, em estando a tomar o pequeno-almoço, ainda antes do dealbar
da aurora, tenha escutado aquilo. Entrou-me pela fresta enquanto dava conta da meyhávena de leite e da torrada.
Mas também me
entrou p’la alma, bem mais forte que p’la janela ou p’los ouvidos.
O som da sirene
dos bombeiros, àquela hora, quando o sol ainda nem acordou por completo, é confrangedor.
Chamar por reforços ao quartel àquela hora leva-nos, p’lo menos a mim, a
perguntar que tragédia terá acontecido a ponto de os efectivos de serviço não
chegarem.
Não seria incêndio
florestal, que estamos em Dezembro e bem que ouvi o rodado dos automóveis no
asfalto húmido. Também não seria inundação. Não choveu quanto baste p’ra tal. Os
acidentes de automóvel, em regra, são atendidos com quem está de serviço, não
sendo necessários reforços.
Resta um eventual
incêndio doméstico ou industrial. Ou ainda um acidente ferroviário, dos muito
graves. Ficou-me a dúvida.
Em saindo de casa,
não vi fumo nem senti cheiros. O que quer que fosse, seria longe. E, em
chegando à estação a circulação estava normal.
Terei que chegar
ao trabalho e tentar saber, p’las vias que não estão abertas ao público em
geral, que acidente terá sido.
A única certeza
que tive, logo quando o ouvi, foi confirmada já na rua: não havia vento. Que, e
à distância a que estão os bombeiros, só assim a sua sirene me chega a casa.
Isso, e o ter a
janela da cozinha sempre aberta. Enfim, quase sempre.
By me
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