terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Lucubrações sobre um anúncio



E sobre isto, visto e fotografado numa paragem de autocarro cá no meu bairro, surgem-me vários pensamentos.
Logo de entrada, a classificação. É comum ouvir-se (ou ler-se) a expressão “anúncio publicitário”. Tamanho disparate, por vezes vindo de quem tem responsabilidades linguísticas, deixa-me eriçado. Que publicitar é anunciar e vice-versa.
O que há, efectivamente, são anúncios ou publicidades comerciais, institucionais, oficiais… Um edital municipal sobre, por exemplo, o corte de uma estrada para obras, é publicidade: é tornar pública uma informação. O aviso de um casamento (aquilo que é colocado nas conservatórias com, salvo erro, duas semanas de antecedência) tem o nome de “publicar os banhos”. É um anúncio. É publicidade.
Já quanto ao conteúdo:
Isso de usar deus como referência às qualidades do trabalho prestado… sempre gostaria de saber quem vai questionar o dito sobre a veracidade das afirmações?
Quanto ao resto, fico a saber que esta pessoa (que não consigo descortinar se é “uma” se “um”) não cuida de crianças entre nove meses e um ano de idade.
Tal como não sei onde fica o negócio e da sua conveniência.

Certo! Estou a ser mauzinho para com esta pessoa que, nos tempos difíceis que correm, está a tentar ganhar a vida. E sabemos que a publicidade é um campo complexo, especializado e competitivo.
Tal como sabemos que cada vez mais as mães necessitam de alguém onde “deixar o seu menino para ir trabalhar”.
Tal como sabemos que, cada vez mais, há quem decida não ter filhos porque a vida está difícil ou os empregadores irritam-se quando tal acontece.
Tal como, neste caso, o que importa é a qualidade do trabalho de cuidar de crianças e não tanto a eficácia da publicidade ou o bom uso da língua.
Mas, em vendo um anúncio destes, são pensamentos que não consigo evitar.
Tal como não consigo deixar de imaginar o cuidado que houve no fazer de tal anúncio, desde o seu significado geral até à escolha das palavras, do aspecto gráfico ao “olá” inicial e o “smile” a meio, passando pela escolha dos locais onde o afixar.
E as expectativas sobre um ou mais possíveis clientes que venham resolver parcialmente a crise que atravessamos.

Tudo de bom para esta pessoa e para os pimpolhos que com ela fiquem.


By me

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