E
sobre isto, visto e fotografado numa paragem de autocarro cá no meu bairro,
surgem-me vários pensamentos.
Logo
de entrada, a classificação. É comum ouvir-se (ou ler-se) a expressão “anúncio
publicitário”. Tamanho disparate, por vezes vindo de quem tem responsabilidades
linguísticas, deixa-me eriçado. Que publicitar é anunciar e vice-versa.
O
que há, efectivamente, são anúncios ou publicidades comerciais, institucionais,
oficiais… Um edital municipal sobre, por exemplo, o corte de uma estrada para
obras, é publicidade: é tornar pública uma informação. O aviso de um casamento
(aquilo que é colocado nas conservatórias com, salvo erro, duas semanas de
antecedência) tem o nome de “publicar os banhos”. É um anúncio. É publicidade.
Já
quanto ao conteúdo:
Isso
de usar deus como referência às qualidades do trabalho prestado… sempre
gostaria de saber quem vai questionar o dito sobre a veracidade das afirmações?
Quanto
ao resto, fico a saber que esta pessoa (que não consigo descortinar se é “uma”
se “um”) não cuida de crianças entre nove meses e um ano de idade.
Tal
como não sei onde fica o negócio e da sua conveniência.
Certo!
Estou a ser mauzinho para com esta pessoa que, nos tempos difíceis que correm,
está a tentar ganhar a vida. E sabemos que a publicidade é um campo complexo,
especializado e competitivo.
Tal
como sabemos que cada vez mais as mães necessitam de alguém onde “deixar o seu
menino para ir trabalhar”.
Tal
como sabemos que, cada vez mais, há quem decida não ter filhos porque a vida
está difícil ou os empregadores irritam-se quando tal acontece.
Tal
como, neste caso, o que importa é a qualidade do trabalho de cuidar de crianças
e não tanto a eficácia da publicidade ou o bom uso da língua.
Mas,
em vendo um anúncio destes, são pensamentos que não consigo evitar.
Tal
como não consigo deixar de imaginar o cuidado que houve no fazer de tal anúncio,
desde o seu significado geral até à escolha das palavras, do aspecto gráfico ao
“olá” inicial e o “smile” a meio, passando pela escolha dos locais onde o
afixar.
E
as expectativas sobre um ou mais possíveis clientes que venham resolver
parcialmente a crise que atravessamos.
Tudo
de bom para esta pessoa e para os pimpolhos que com ela fiquem.
By me
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