segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Ontem fui às compras



Eu sei que o domingo não é o melhor dia para se ir ao supermercado. Que muita é a gente que, tal como eu ontem, aproveita o dia de folga para tal.
E, claro que ir fazer negócio mesmo que seja comida ao domingo, é fortalecer o haver comércio aberto neste dia, alimentando a ideia que a família só pode estar unida se o negócio do patrão o permitir.
Em qualquer dos casos, foi quando me calhou e presumi que ontem haveria menos gente que na semana passada e menos que daqui a duas semanas. As datas dos salários e as dos festejos contam, nestas coisas de afluências, e tentei jogar com isso.
Não estava muito errado.
A minha surpresa foi, confesso, com a quantidade de discussões que presenciei enquanto percorria os corredores.
Não me refiro a birras infantis por via de um qualquer chocolate ou brinquedo. Isso é o habitual e, pais avisados, evitam os respectivos corredores, ao mesmo tempo que os gerentes espertos colocam estes produtos onde não é possível não passar e mesmo à altura dos olhares dos petizes.
Também não me refiro às impaciências nas filas das caixas registadoras. Acontece todos os dias do ano. Creio, aliás, que os chefes de loja fazem questão de ter uma ou duas caixas abertas a menos do que seria de esperar, mantendo em permanência as filas. Como se fossem elas que incrementassem o negócio.
E, claro, há sempre aquela senhora (porque será que só acontece com senhoras?) que se acha com direito a ser atendida antes dos demais e que trata de furar – ou tentar furar – as filas da carne ou do peixe, provocando um coro de protestos e um azedar de ânimos.
Não foram nenhuma destas discussões que me surpreenderam ontem.
Foi mesmo o ter visto casais, uns mais novos, outros não tanto, a discutir entre si nos corredores. Fosse nos frescos, nas conservas, na higiene ou nos matinais.
Contei sete casais a discutir. Destes, três era sobre se se levava ou não um dado produto. Um deles estava mesmo naquela situação caricata em que ela punha no carrinho e ele devolvia à prateleira. Várias vezes o mesmo produto, parados e em tom alto.
Das discussões dos outros não me apercebi eu do assunto. Sou cusco mas não tanto. Mas foram em número suficientemente anormal para que desses por isso.
Será estranho ver tanta gente a discutir, mais a mais agora, que se aproxima a época do “paz na terra aos homens de boa vontade”? Talvez não!
Que entre a falta de salários e as reduções forçadas de outros, numa altura em que se espera haver um pouco mais que o habitual, não dá bom humor nem vontade de ceder perante a cara-metade.

Sobrou, para compensar, a reacção da senhora que estava à minha frente na fila de pagamento.
Enquanto remexia ela na bolsa em busca da carteira, perguntei-lhe:
“Posso levar um sorriso seu?”
Olho p’ra mim, com cara de espanto naturalmente, e depois sorriu francamente, ao ver o que lhe mostrava eu: o meu telemóvel, igualzinho ao dela, e que sempre foi raro de encontrar em uso. E que ela tinha estado a usar p’ra enviar sms enquanto esperava vez.
“Olha, pois é! Ganda máquina! Sempre a bombar, ao contrário de muitos que agora se vêem p’ra aí. Tem graça sim senhor.”
E seguiu com as compras, deixando no ar os resquícios do seu sorriso de trintona elegante e bonita, p’ra compensar o mau humor que reinava lá mais p’ra trás.

Este produto que veio comigo do supermercado não está nos expositores, não tem código de barras, não tem dia de promoções e é de borla.

By me 

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