Eu
sei que o domingo não é o melhor dia para se ir ao supermercado. Que muita é a
gente que, tal como eu ontem, aproveita o dia de folga para tal.
E,
claro que ir fazer negócio mesmo que seja comida ao domingo, é fortalecer o
haver comércio aberto neste dia, alimentando a ideia que a família só pode
estar unida se o negócio do patrão o permitir.
Em
qualquer dos casos, foi quando me calhou e presumi que ontem haveria menos
gente que na semana passada e menos que daqui a duas semanas. As datas dos salários
e as dos festejos contam, nestas coisas de afluências, e tentei jogar com isso.
Não
estava muito errado.
A
minha surpresa foi, confesso, com a quantidade de discussões que presenciei
enquanto percorria os corredores.
Não
me refiro a birras infantis por via de um qualquer chocolate ou brinquedo. Isso
é o habitual e, pais avisados, evitam os respectivos corredores, ao mesmo tempo
que os gerentes espertos colocam estes produtos onde não é possível não passar
e mesmo à altura dos olhares dos petizes.
Também
não me refiro às impaciências nas filas das caixas registadoras. Acontece todos
os dias do ano. Creio, aliás, que os chefes de loja fazem questão de ter uma ou
duas caixas abertas a menos do que seria de esperar, mantendo em permanência as
filas. Como se fossem elas que incrementassem o negócio.
E,
claro, há sempre aquela senhora (porque será que só acontece com senhoras?) que
se acha com direito a ser atendida antes dos demais e que trata de furar – ou tentar
furar – as filas da carne ou do peixe, provocando um coro de protestos e um
azedar de ânimos.
Não
foram nenhuma destas discussões que me surpreenderam ontem.
Foi
mesmo o ter visto casais, uns mais novos, outros não tanto, a discutir entre si
nos corredores. Fosse nos frescos, nas conservas, na higiene ou nos matinais.
Contei
sete casais a discutir. Destes, três era sobre se se levava ou não um dado
produto. Um deles estava mesmo naquela situação caricata em que ela punha no
carrinho e ele devolvia à prateleira. Várias vezes o mesmo produto, parados e
em tom alto.
Das
discussões dos outros não me apercebi eu do assunto. Sou cusco mas não tanto.
Mas foram em número suficientemente anormal para que desses por isso.
Será
estranho ver tanta gente a discutir, mais a mais agora, que se aproxima a época
do “paz na terra aos homens de boa vontade”? Talvez não!
Que
entre a falta de salários e as reduções forçadas de outros, numa altura em que
se espera haver um pouco mais que o habitual, não dá bom humor nem vontade de
ceder perante a cara-metade.
Sobrou,
para compensar, a reacção da senhora que estava à minha frente na fila de
pagamento.
Enquanto
remexia ela na bolsa em busca da carteira, perguntei-lhe:
“Posso
levar um sorriso seu?”
Olho
p’ra mim, com cara de espanto naturalmente, e depois sorriu francamente, ao ver
o que lhe mostrava eu: o meu telemóvel, igualzinho ao dela, e que sempre foi
raro de encontrar em uso. E que ela tinha estado a usar p’ra enviar sms
enquanto esperava vez.
“Olha,
pois é! Ganda máquina! Sempre a bombar, ao contrário de muitos que agora se vêem
p’ra aí. Tem graça sim senhor.”
E
seguiu com as compras, deixando no ar os resquícios do seu sorriso de trintona
elegante e bonita, p’ra compensar o mau humor que reinava lá mais p’ra trás.
Este
produto que veio comigo do supermercado não está nos expositores, não tem
código de barras, não tem dia de promoções e é de borla.
By me
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