Hugo
Lança é o seu nome.
Sei-o
porque lho perguntei. Sei-o porque o fiquei a repeti-lo para que não me
esquecesse. Sei-o porque o anotei, medida última contra o esquecimento, no
caderninho onde deixo os apontamentos para futuros trabalhos ou escritos.
Mas
eu conto de princípio:
A
rua onde fica a empresa onde trabalho é larga e de trânsito rápido. A sua
travessia pedonal está confinada aos semáforos e passadeiras superiores, pese
embora ter pouco peões. Talvez que por causa disso não seja particularmente bem
iluminada de noite.
Sabendo
tudo isto, quando faço sinal de paragem a um autocarro procuro ficar bem visível,
na berma exterior do recorte onde encosta, recolhendo à paragem apenas quando
verifico, pelo sinal luminoso, que me viu.
Hoje
não foi excepção.
O
que foi menos comum foi o motorista ter tido uma palavra de apreço por esta
minha atitude que, segundo ele, lhes facilita a vida. Gostei de ouvir, ainda
que o não faça para tal. E trocámos mais umas banalidades sobre passageiros e
autocarros.
Sentei-me,
talvez devido à conversa, no banco da frente, onde raramente me sento. E fiquei
atento à prática dos que queriam embarcar e de que forma e com que antecedência
fazem o respectivo sinal de aviso: o braço levantado.
Efectivamente,
de noite é difícil de ver. E se for com o autocarro já perto, o abrandar e
parar não é tão fácil.
Mas
dei por mais.
Em
algumas paragens não havia quem quisesse subir mas tão só descer. E o motorista
não imobilizava o veículo da mesma forma:
Se
havia para embarcar ajustava a porta da frente junto à paragem; em não o
havendo, uns dois metros mais à frente, alinhando as portas de trás com a
paragem, onde não há obstáculos (pilaretes, automóveis no passeio, caixotes de
lixo, bermas estragadas e afins). Da segunda vez achei coincidência. Na
terceira comecei a perder dúvidas. À quarta tive a certeza!
Ele
fazia-o propositadamente, tentando facilitar a vida aos passageiros, mesmo que
eles não dessem por isso.
Não
resisti e, a algumas paragens daquela onde eu iria descer, saí do meu banco e
meti conversa com ele.
Elogiei
o que fazia, reparei-lhe que a maioria dos seus colegas não o fazia e que as
coisas boas deviam ser elogiadas. Como esta.
Respondeu-me
que, apesar de estar de serviço desde as 13 horas (eram umas 22.45h) continuava
a fazer o melhor que podia e sabia pelo bem-estar de quem transportava.
Antes
de sair na minha paragem, perguntei-lhe pelo nome: Hugo Lança, foi a resposta.
Aqui
fica o agradecimento público ao Sr. Hugo Lança, motorista da Carris. Bem como a
todos os demais, mesmo não sabendo os seus nomes, que têm estas atitudes anónimas
e regulares para com quem confia neles a vida e o chegar a horas.
Faço-o
em meu nome e em nome de todos os que, mesmo não o notando nem sabendo os nomes
dos motoristas, são alvo destas atenções profissionais.
By me
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