Fazer
greve é um direito constitucional.
É
uma das formas que os “de baixo” têm para mostrar o seu forte desagrado contra
medidas tomadas pelos “de cima”.
Não
é a greve bem aceite pelos “de cima” tal como não é bem aceite pelos que,
sabendo o seu direito constitucional “proibido” pelos contratos a prazo, pelos
recibos verdes, pelos maus fígados de entidades patronais ou chefias, temem
pelo seu futuro.
E
são inúmeras as vezes que vejo na comunicação social, ou em conversas comigo, gente
particularmente desagradada com greves feitas por outros. Pelos incómodos que
provocam, nos direitos de que se sentem sonegados, na raiva de se sentirem
cidadãos de segunda.
No
entanto, a maioria desses esquece que o fazer de uma greve não é um acto
gratuito. Na lisura das relações laborais, não trabalhar significa não ser pago.
E um ou mais dias de greve resultam em cortes no rendimento desse mês. Coisa
que, na maioria dos níveis salariais, pode ser bem grave.
Há
uns anos a empresa em que trabalho esteve de greve. Três dias consecutivos. Por
outras palavras, uma greve que implicava um desconto de dez por cento no salário
desse mês. Com a maioria dos portugueses sabe, é um corte importante.
Acontece
que, e fruto da actividade que exercemos, nem todos estariam em falta se não
fossem trabalhar nesses dias. Com as variações dos horários e dias de folgas,
um ou dois desses dias poderiam coincidir com os dias de greve, não lhes sendo
descontado o respectivo pagamento.
Sabendo
de tudo isto, fiz uma proposta lá, no grupo de trabalho a que pertenço:
Criarmos
um fundo de greve para minimizarmos o seu efeito.
Todos
os que estivessem de folga nos dias de greve contribuiriam com o salário
correspondente a esses dias para um “saco comum”. Cujo conteúdo seria distribuído
igualmente por todos. O efeito, em termos de luta, seria o mesmo, mas as
consequências para cada um seriam um pouco atenuadas.
Não
consegui pôr isto em prática.
Para
além de alguns olhares de indiferença, ainda ouvi algumas graçolas menos
cordiais.
E,
no entanto, desses três dias de greve eu estava de folga dois. Não estava eu a
pedir mas antes a contribuir para o “saco”.
Solidariedade,
para muitos, é uma palavra bonita que vem no dicionário, um movimento laboral
algures lá para o nordeste europeu ou o que vem associado com algumas frases e
fotos bonitas que provocam emoções e “likes” nas redes sociais.
Mas
quando é para agir e ser solidário, real e anonimamente, longe das câmaras e
dos grandes eventos…
By me
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