Foi há pouco menos
de dois anos.
Estava eu de braço
ao peito, o esquerdo, com a mão partida. E sendo certo que há coisas muito
piores, tentar fazer a vida normalmente só com uma mão não é fácil. Mas eu
tentei – e consegui – levar a coisa com o bom humor possível.
Claro que se há
algo difícil é o usar de talheres – faca e garfo – em que uma das mãos está
quase inútil. E eu ia escolhendo o que comer em função da facilidade de o levar
à boca.
Um dia, em que
tudo me havia corrido mal logo desde manhã, dou comigo a precisar de almoçar em
Lisboa. E acabei por fazer pontaria para um cervejaria em Benfica.
Olhando p’ra
ementa não resisti e pedi um bitoque. A senhora que me atendeu recebeu o meu
pedido e afastou-se, não sem antes olhar de novo p’ra mim e p’ro braço
engessado que eu havia pousado na mesa.
Passados instantes
regressou e perguntou-me se eu quereria que, na cozinha, “ajeitassem” o bitoque
p’ra mim. E olhando, de novo p’ro meu braço com gesso.
Disse-lhe que não,
que me haveria de desembaraçar, que não seria uma mão partida que me iria
impedir de comer.
Quando, pouco
depois, regressou com o bendito bitoque, a minha boca mal sustinha o salivar. E
insistiu ela que se eu tivesse dificuldade em cortar a carne que a chamasse que
me ajudaria.
Agradeci-lhe,
naturalmente. Mas eu estava mais que decidido a provar a minha auto-suficiência
e, mesmo com um braço ao peito, haveria de derrotar aquele bitoque. Consegui-o,
que sou teimoso, lá inventando o como o cortar.
Era igualzinho a
este, que decidi hoje repetir o local.
Já a senhora que,
não me conhecendo de parte alguma, não deixou de me querer ajudar, não a vejo. Mas
não a esqueço, nem ao gesto.
Que procuro
replicar sempre que posso.
By me
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