O
jornal i tem hoje dois depoimentos interessantes de ler.
Trata-se
da opinião de Joana Amaral Dias e de Teresa Caeiro sobre os motivos de,
respectivamente, ir ou não à manifestação marcada para hoje.
Tenho
que confessar que tive que consultar a web para saber quem é a segunda. Falha
minha, presumo. Que a primeira já tive ocasião de trabalhar com ela, no âmbito
do meu ofício.
A
primeira abordagem a estes dois artigos passa pela imagem. Estas aqui visíveis.
É curioso de observar as opções do editor fotográfico do jornal, ao escolher
estas fotografias. Não são inócuas, se bem que a de Joana esteja assinada e a
de Teresa seja oriunda de um banco de fotografias. Mas a escolha existiu e
muitas mais haveria para usar. Foram estas.
De
seguida, e comparando os dois textos, a diferença de tom. Enquanto o da
primeira é um texto de paixão, de emoção, o da segunda é um texto frio,
distante. Fará sentido, já que Joana Amara Dias usa-o para descrever os seus
motivos em estar na manifestação e Teresa Caeiro os motivos para não estar. Além
do mais, enquanto que a primeira milita na esquerda, contestando o actual
governo, a segunda é membro da maioria parlamentar de suporte ao actual governo
de direita.
Já
quanto aos argumentos… Os de Joana Amara Dias não me surpreenderam. Já a ouvi várias
vezes discursar, a solo ou em debate. Os de Teresa Caeiro também não me surpreenderam,
depois de saber o percurso e opção política e partidária. Mas fiquei preocupado
ao perceber como se pode ser tão elitista, tão defensor da superioridade dos
governantes em desfavor dos restantes cidadãos.
Resta-me
acrescentar a minha própria posição.
A
democracia foi inventada na antiga Grécia. E o seu conceito é de “governo pelo
povo”.
Não
nos podemos esquecer, no entanto, que a Grécia de então era um país onde a mão-de-obra
era de escravos e que esse tal de “povo” se resumia aos cidadãos de pleno
direito, uma minoria de entre todos os habitantes.
Na
prática, o que hoje se vive. Por cá e nos países com os quais ombreamos
civilizacionalmente.
Discute-se
em alguns círculos a democracia representativa ou a democracia participativa.
Se tiver que escolher entre ambas, escolho muito naturalmente a segunda, em que
os cidadãos – todos – são parte activa nas decisões e não apenas meros
eleitores, deixando a governação para uns quantos “iluminados”.
As
elites, destras ou canhotas, têm como prioridade a sua própria sobrevivência
enquanto elites decisoras. Quer seja para decidir o que se faz, quer seja para
decidir o que não se faz.
E
enquanto assim for, todos os outros, os excluídos dessas elites, mais não serão
que o suporte legal e material do sistema representativo.
Quando
souber que qualquer uma destas senhoras (e dos que com elas decidem e
parlamentam) têm que se levantar pelas 5 da manhã para conseguirem uma consulta
médica; Quando souber que algum parente seu ficou sem casa; Quando souber que
se foram deitar de barriga vazia para que os filhos levassem alguma coisa lá
dentro; Quando souber que todos esses elementos dessas elites políticas
conhecem na pele o remédio que prescrevem para os cidadãos; Quando souber que o
real e principal objectivo de quem governa ou aspira a governar é colocar todos
os outros no seu próprio patamar de vida…
Nesse
dia serei um acérrimo defensor da democracia. Porque eficaz e igualitária.
Até
lá, farei muita questão de estar nas ruas ou onde quer que seja, contestando as
decisões que põem em causa a minha vida e a dos demais, recusando o direito a
estes senhores e senhoras de dizerem, decidirem e imporem o que devo ou não
fazer ou pensar.
E
se as palavras não chegarem…
By me
Sem comentários:
Enviar um comentário