sábado, 2 de março de 2013

Em torno de duas opiniões




O jornal i tem hoje dois depoimentos interessantes de ler.
Trata-se da opinião de Joana Amaral Dias e de Teresa Caeiro sobre os motivos de, respectivamente, ir ou não à manifestação marcada para hoje.
Tenho que confessar que tive que consultar a web para saber quem é a segunda. Falha minha, presumo. Que a primeira já tive ocasião de trabalhar com ela, no âmbito do meu ofício.
A primeira abordagem a estes dois artigos passa pela imagem. Estas aqui visíveis. É curioso de observar as opções do editor fotográfico do jornal, ao escolher estas fotografias. Não são inócuas, se bem que a de Joana esteja assinada e a de Teresa seja oriunda de um banco de fotografias. Mas a escolha existiu e muitas mais haveria para usar. Foram estas.
De seguida, e comparando os dois textos, a diferença de tom. Enquanto o da primeira é um texto de paixão, de emoção, o da segunda é um texto frio, distante. Fará sentido, já que Joana Amara Dias usa-o para descrever os seus motivos em estar na manifestação e Teresa Caeiro os motivos para não estar. Além do mais, enquanto que a primeira milita na esquerda, contestando o actual governo, a segunda é membro da maioria parlamentar de suporte ao actual governo de direita.
Já quanto aos argumentos… Os de Joana Amara Dias não me surpreenderam. Já a ouvi várias vezes discursar, a solo ou em debate. Os de Teresa Caeiro também não me surpreenderam, depois de saber o percurso e opção política e partidária. Mas fiquei preocupado ao perceber como se pode ser tão elitista, tão defensor da superioridade dos governantes em desfavor dos restantes cidadãos.

Resta-me acrescentar a minha própria posição.
A democracia foi inventada na antiga Grécia. E o seu conceito é de “governo pelo povo”.
Não nos podemos esquecer, no entanto, que a Grécia de então era um país onde a mão-de-obra era de escravos e que esse tal de “povo” se resumia aos cidadãos de pleno direito, uma minoria de entre todos os habitantes.
Na prática, o que hoje se vive. Por cá e nos países com os quais ombreamos civilizacionalmente.
Discute-se em alguns círculos a democracia representativa ou a democracia participativa. Se tiver que escolher entre ambas, escolho muito naturalmente a segunda, em que os cidadãos – todos – são parte activa nas decisões e não apenas meros eleitores, deixando a governação para uns quantos “iluminados”.
As elites, destras ou canhotas, têm como prioridade a sua própria sobrevivência enquanto elites decisoras. Quer seja para decidir o que se faz, quer seja para decidir o que não se faz.
E enquanto assim for, todos os outros, os excluídos dessas elites, mais não serão que o suporte legal e material do sistema representativo.
Quando souber que qualquer uma destas senhoras (e dos que com elas decidem e parlamentam) têm que se levantar pelas 5 da manhã para conseguirem uma consulta médica; Quando souber que algum parente seu ficou sem casa; Quando souber que se foram deitar de barriga vazia para que os filhos levassem alguma coisa lá dentro; Quando souber que todos esses elementos dessas elites políticas conhecem na pele o remédio que prescrevem para os cidadãos; Quando souber que o real e principal objectivo de quem governa ou aspira a governar é colocar todos os outros no seu próprio patamar de vida…
Nesse dia serei um acérrimo defensor da democracia. Porque eficaz e igualitária.
Até lá, farei muita questão de estar nas ruas ou onde quer que seja, contestando as decisões que põem em causa a minha vida e a dos demais, recusando o direito a estes senhores e senhoras de dizerem, decidirem e imporem o que devo ou não fazer ou pensar.
E se as palavras não chegarem…

By me 

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