Toda a gente se
está a pronunciar sobre o assunto. E eu não sou menos que os outros.
E o assunto é: o
anúncio de um programa semanal de comentário político tendo como figura principal
José Sócrates.
E, sobre isto,
gostava de me debruçar não sobre ele, assunto, mas antes sobre os motivos que
lhe deram origem. Ou, de outra forma, das consequências que deste programa
poderão advir e até que ponto elas poderão ter (ou não) sido ignoradas.
Diz-se que o povo
tem memória curta. Mas não tanto assim. E mais que isso, o actual governo tem
feito o que pode para atirar parte da responsabilidade do que vai acontecendo
por cá para o anterior governo. Para José Sócrates, portanto.
É assim que o antigo
primeiro-ministro é razoavelmente mal visto pela população portuguesa, a ponto
de, em se referindo o nome de “Pinóquio”, ainda hoje ser conotado com ele. Mesmo
quase dois anos passados sobre o seu afastamento do poder.
E, de igual forma,
não desapareceu por completo da memória o desempenho enquanto engenheiro
municipal, nem a sua licenciatura, nem o caso Freeport…
José Sócrates não é,
de todo, uma pessoa bem querida do povo português. Não lhe foi dado o benefício
do olvido ou do perdão. Ainda não houve tempo para isso.
Que vantagens
haverá, então, com o seu regresso aos ecrãs?
Audiências televisivas
não será, certamente, que muito bom português mudará de canal de cada vez que
vir a sua cara.
Também não será
para limpar a sua imagem. Não passou tempo para isso e não será apenas o comentário
à actividade dos que estão no lugar que ocupou e de onde foi afastado que o
conseguirá.
Não creio que seja
para tentar reconciliar os portugueses com o seu partido. Dentro dele não
deixou grandes recordações, nas bases e nas cúpulas e quanto mais José Sócrates
estiver associado ao partido socialista, menos simpatias este terá.
Mas é curioso que
a cada desvantagem que enumero consigo ver que cada uma delas e o seu todo são
vantagens e/ou trunfos para alguém. Exactamente para os seus adversários
politico-partidários. Ter José Sócrates nos ecrãs é canalizar sobre ele e o seu
partido as raivas e desagrados dos cidadãos, desviando-as de Pedro Passos
Coelho e do partido que o suporta na Assembleia da República.
Por outras
palavras: ter Sócrates na tv é vantagem para Coelho.
Mas esta vantagem
serve para…?
Sem considerar a
contestação popular, cada vez mais activa, que tem um bode expiatório já
conhecido e que pode aliviar a pressão sobre o governo, podemos pensar que se
aproximam eleições autárquicas.
Tal como podemos
pensar que este governo pode não cumprir todo o seu mandato. Podemos pensar nós
e com todo a certeza já o pensaram tanto governo como oposição. E que será
particularmente útil começar já a retirar credibilidade à alternativa habitual
das forças no poder.
Será tudo isto uma
teoria da conspiração? Talvez!
Mas somados estes
factores, com outros que são do conhecimento geral sobre os comportamentos de
políticos e seus vassalos, talvez que não seja tão disparatado quanto isso. E
sabemos que entre políticos e vassalos sempre aconteceram relações perigosas.
Resta considerar
que, no meio de tudo isto e se for verdade, José Sócrates estará a ser usado
contra o seu próprio partido. Também isso me não espantaria, sabendo o que é
poder e ego, e como o segundo pode inchar para atingir o primeiro.
By me
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