Que
eu tenho um mau feitio levado da breca é do conhecimento geral de quem me
conhece.
Há
coisas que me fazem sair do sério e só não intervenho mais incisivamente por
questões de comodismo ou de desprezo pelos demais intervenientes!
Regularmente
vou ao cafezinho ali a meio da rua tomar a “bica com bolo” da ordem.
Duas,
três horas depois de acordar, dadas que sejam as voltinhas na web, o
pequeno-almoço doméstico, a higiene matinal e uma boa dúzia de cigarros
consumidos na ânsia de repor os níveis de nicotina perdidos com o sono.
Neste
café, que prima pela luz e pela simpatia de quem ali trabalha, existe o hábito
de se encontrarem disponíveis alguns jornais diários. Não que eu os consuma,
que os do desporto ou dos boatos e maledicência me passam ao lado. Mas muitos
há que o fazem.
Regra
geral, esta leitura pública acontece à mesa, com todo o tempo e conforto, com
uma chávena de café já vazia, por vezes num convite implícito a que os recém
chegados se juntem à mesa.
Mas
alguns há que fazem do balcão o seu lugar de leitura. Escancarado em cima do
vidro, de braços abertos apoiados, chegam a chávena para o lado para deixar as
letras livres.
Mas
só as letras, que o espaço que os demais consumidores da loja utilizam fica
restrito àquilo que entendem deixar livre. Nem para aceder ao que se quer
consumir nem mesmo para se poder ver o que está em venda no expositor.
O
cúmulo do azar será encontrar um casal que o faça em conjunto!
Aí
o pedido da bica é feito por cima dos ombros, a recepção da chávena é feita por
cima do jornal e o deitar do açúcar é um jogo de equilibrismo entre o pacote e
o café.
Este
olhar para o próprio umbigo é algo que me faz sair do sério, por vezes
levando-me a ter “saídas” não muito simpáticas.
Há
uns tempos deu-me para esta, em pleno bairro de Alvalade, em Lisboa: “Desculpe,
mas… será que o meu café atrapalha o vosso jornal?”
O
olhar que recebi na volta, se disparasse ter-me-ia transformado num passador! O
aspecto de “patos bravos novos-ricos” com excesso de gel para um e roupas
dignas de um “trottoir” para a outra, bem davam a entender que o dinheiro que
possuíam, ganho sabe-se lá como, lhes dava direito a ocuparem todo o mundo e
arredores.
Mas
nem com esta afirmação consegui os míseros centímetros vitais para receber a
chávena.
Não
fui de modas! Com ar de desastrado, entornei quase todo o bendito café por cima
do jornal, com uns salpicos adicionais para aquelas roupas engomadinhas.
Pedidos
de desculpa, exclamações de desagrado, mas lá consegui tomar a bica (outra, que
ma serviram) no espaço que me seria devido pelo preço que paguei!
Por
parte de quem estava do outro lado do balcão não houve comentários. Mas os
discretos sorrisos que lhes vi, depois da saída deles, bem que afirmavam um
“Bem feita!” Mas como o cliente tem sempre razão, pouco mais poderiam ter
feito.
Que
este acto não foi bonito, não foi! Mas que me soube muito bem, lá isso soube!
By me
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