Saio de casa com o raiar da aurora.
O céu já não é aquele negrume absoluto e
começa, muito timidamente, a assumir um tom leitoso, sem cor. Que me daria
fortes indícios sobre as condições atmosféricas, não fora o caso de estar a
chover. Por sorte, e apesar de forte, a chuva não é tocada a vento, que aliás
nem sopra uma aragem, pelo que apenas as pernas das calças ficam molhadas.
O caminho para a estação é feito quase que
completamente às escuras. As poupanças forçadas já chegaram ao meu burgo e as luzes
da rua apagam-se ainda antes do sol se mostrar.
Mas não estou sozinho neste meu caminhar em
direcção ao ganha-pão. Ainda que mais nenhum (ou quase) ser humano mostre a sua
presença, os pássaros da zona fazem-se ouvir, não sei se celebrando mais um dia
se relatando entre si os sonhos da noite. Mas que é agradável de os ouvir a
descompasso com as minhas próprias passadas na calçada molhada, lá isso é.
E se esta foi a forma de o Inverno se
despedir, neste seu último dia de existência este ano, foi uma suave e bonita
despedida. Assim a Primavera se mostre simpática, que os humanos nada fazem
nesse sentido.
By me
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