terça-feira, 19 de março de 2013

Aurora




Saio de casa com o raiar da aurora.
O céu já não é aquele negrume absoluto e começa, muito timidamente, a assumir um tom leitoso, sem cor. Que me daria fortes indícios sobre as condições atmosféricas, não fora o caso de estar a chover. Por sorte, e apesar de forte, a chuva não é tocada a vento, que aliás nem sopra uma aragem, pelo que apenas as pernas das calças ficam molhadas.
O caminho para a estação é feito quase que completamente às escuras. As poupanças forçadas já chegaram ao meu burgo e as luzes da rua apagam-se ainda antes do sol se mostrar.
Mas não estou sozinho neste meu caminhar em direcção ao ganha-pão. Ainda que mais nenhum (ou quase) ser humano mostre a sua presença, os pássaros da zona fazem-se ouvir, não sei se celebrando mais um dia se relatando entre si os sonhos da noite. Mas que é agradável de os ouvir a descompasso com as minhas próprias passadas na calçada molhada, lá isso é.

E se esta foi a forma de o Inverno se despedir, neste seu último dia de existência este ano, foi uma suave e bonita despedida. Assim a Primavera se mostre simpática, que os humanos nada fazem nesse sentido.

By me

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