A
noite já havia caído, tal como a temperatura. Tinha-se era levantado uma aragem
com aspirações a vento que em nada confortava os que, como eu, tinham
desembarcado do suburbano a caminho de casa.
Por
tudo isto, as pressas em descer as escadas, cruzar as cancelas e seguir caminho
eram muitas.
Menos
eu. Faço questão de não me apressar nem a caminho de casa nem do trabalho. Nas
outras circunstâncias ainda o pondero, mas não nestas.
Por
isso mesmo, estava ainda na estação quando oiço “Olhe” Faz favor!” pronunciado
em voz alta por uma senhora. Seria impossível não parar e olhar.
Estava
ela junto à máquina Multibanco e dirigia-se a um cavalheiro que dela se
afastava, já a uns seis ou sete metros. E ela esticava-lhe a mão.
Parado,
olhei com mais atenção: a mão dela continha uma nota de dez euros. O homem, que
tinha a carteira na mão, olhou, arrepiou caminho, recebeu e nota que guardou e
foi-se embora. Corado e sem uma palavra.
Ficou
a senhora a fazer o que tinha que fazer na máquina e eu especado a olhar para
ela. Tinha acabado de assistir a algo bem raro e queria degustar o momento até
ao último suspiro.
Interessante
seria ficar com um retrato dela. Que o merecia e até ser emoldurado. Mas a
hora, o local e o sermos de todo desconhecidos tornava impossível a tarefa de o
fazer. Mudei de ideias e esperei que viesse para os meus lados. E abordei-a.
Disse-lha
da raridade do episódio, de encontrar alguém honesto a este ponto, e pedi-lhe o
seu nome. Só o primeiro.
Disse-me
que estava com pressa, que o seu nome é L. e que não sabe ser de outra maneira
na vida. E seguiu o seu caminho, sorrindo.
Apesar
de ser já de noite, de estar frio e vento e de ter tido uma mão-cheia de más
notícias durante o dia, este terminou iluminado pelo lado bom da vida.
Bem-haja,
L.
By me
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