Este é o
protagonista da história. Um quase vítima, salvo devido a boas vontades já
raras e alguns sacrifícios.
Mas eu conto do
princípio.
Em sendo fim de
semana, o meu desembarque ferroviário em Lisboa, a caminho do trabalho, é na
estação de Benfica. Dá-me mais jeito.
A mim e a muitos
outros, que aqui fazem transbordo para autocarros com diversos destinos,
próximos ou distantes.
Sendo que não
gosto de correr de ou para o trabalho, costumo deixar os mais apressados tomar
a dianteira. Acendo um cigarro e vou olhando em redor, umas vezes vendo coisa
nenhuma, outras remoendo em ideias crescidas no comboio, outras ainda em busca
de algo que justifique a câmara que trago no bolso. Hoje não foi excepção.
Mas notei que a
composição demorava a partir. Coisa pouca, mas o suficiente para me alertar.
Eis que, de uma
das portas abertas (estavam quase todas) sai o revisor. Afasta-se do comboio
enquanto que, com o olhar, varre a plataforma já quase deserta. Em passos
rápidos dirige-se à rampa de saída, debruça-se sobre o parapeito e chama. Não
sei o que disse, que não estava eu perto o suficiente par ouvir, mas fez um
chamamento. Que foi ouvido.
Uma mocinha, de
vintes e poucos, arrepiou caminho, entrou numa carruagem e saiu de seguida. Na
mão trazia um saco de plástico cheio.
O revisor olhou de
novo para a plataforma, primeiro um lado, depois o outro. Neste, o seu olhar
cruzou-se com o meu. Um sorriso e um aceno de cabeça meus, de agradecimento
p’la atitude, um sorriso igualmente breve, com um encolher de ombros da parte
dele. E embarcou, fazendo sinal ao maquinista para seguir. Que fez soar o
apito, fechou as portas e reiniciou a marcha.
Todo este compasso
de espera terá demorado, no máximo dos máximos, 90 segundos. O suficiente,
talvez, para que algum passageiro a bordo bufasse de impaciência. No entanto
não creio que tenha estragado em demasia a “tabela” a cumprir.
Desci as escadas,
agora já sem gente apressada, e dirigi-me para a paragem onde haveria de tomar
o autocarro. Sem grande surpresa, constato que na fila estava a mocinha
meio-esquecida. Que embarcou à minha frente e se sentou onde encontrou lugar.
Aqui!
Não poderia eu
meter conversa para um registo fotográfico mais explícito. Nem o lugar nem as
circunstâncias o permitiriam.
Restou-me o
fotografar à sorrelfa o saco, o bendito saco que quase seguia para destino
desconhecido, não fora a boa vontade de um revisor da CP.
Andamos todos
preocupados com o presente e apreensivos sobre o futuro. Alguns há, felizmente,
que tratam de pintar com cores um pouco mais alegres e fruto dos seus bons
actos o negrume que vemos.
Bem hajam!
By me
Sem comentários:
Enviar um comentário