sábado, 23 de março de 2013

O protagonista




Este é o protagonista da história. Um quase vítima, salvo devido a boas vontades já raras e alguns sacrifícios.
Mas eu conto do princípio.

Em sendo fim de semana, o meu desembarque ferroviário em Lisboa, a caminho do trabalho, é na estação de Benfica. Dá-me mais jeito.
A mim e a muitos outros, que aqui fazem transbordo para autocarros com diversos destinos, próximos ou distantes.
Sendo que não gosto de correr de ou para o trabalho, costumo deixar os mais apressados tomar a dianteira. Acendo um cigarro e vou olhando em redor, umas vezes vendo coisa nenhuma, outras remoendo em ideias crescidas no comboio, outras ainda em busca de algo que justifique a câmara que trago no bolso. Hoje não foi excepção.
Mas notei que a composição demorava a partir. Coisa pouca, mas o suficiente para me alertar.
Eis que, de uma das portas abertas (estavam quase todas) sai o revisor. Afasta-se do comboio enquanto que, com o olhar, varre a plataforma já quase deserta. Em passos rápidos dirige-se à rampa de saída, debruça-se sobre o parapeito e chama. Não sei o que disse, que não estava eu perto o suficiente par ouvir, mas fez um chamamento. Que foi ouvido.
Uma mocinha, de vintes e poucos, arrepiou caminho, entrou numa carruagem e saiu de seguida. Na mão trazia um saco de plástico cheio.
O revisor olhou de novo para a plataforma, primeiro um lado, depois o outro. Neste, o seu olhar cruzou-se com o meu. Um sorriso e um aceno de cabeça meus, de agradecimento p’la atitude, um sorriso igualmente breve, com um encolher de ombros da parte dele. E embarcou, fazendo sinal ao maquinista para seguir. Que fez soar o apito, fechou as portas e reiniciou a marcha.
Todo este compasso de espera terá demorado, no máximo dos máximos, 90 segundos. O suficiente, talvez, para que algum passageiro a bordo bufasse de impaciência. No entanto não creio que tenha estragado em demasia a “tabela” a cumprir.
Desci as escadas, agora já sem gente apressada, e dirigi-me para a paragem onde haveria de tomar o autocarro. Sem grande surpresa, constato que na fila estava a mocinha meio-esquecida. Que embarcou à minha frente e se sentou onde encontrou lugar. Aqui!
Não poderia eu meter conversa para um registo fotográfico mais explícito. Nem o lugar nem as circunstâncias o permitiriam.
Restou-me o fotografar à sorrelfa o saco, o bendito saco que quase seguia para destino desconhecido, não fora a boa vontade de um revisor da CP.

Andamos todos preocupados com o presente e apreensivos sobre o futuro. Alguns há, felizmente, que tratam de pintar com cores um pouco mais alegres e fruto dos seus bons actos o negrume que vemos.
Bem hajam!

By me

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