Negra!
Daquele tom africano que quase nos faz pensar em algo levemente azulado. E que,
pela minha falta de hábito em registar este tipo de tez, me deixa quase à-toa
em o reproduzir com exactidão.
Bonita!
Francamente bonita. Pelo menos naquilo que lhe podia ver, ou seja, as mãos,
metade dos pés e a cara. Que todo o resto estava integralmente coberto. Num
sinal inequívoco da sua fé ou crença.
Quando
passou para cima, acompanhada pela pequenada, olhou mas sem muito interesse,
que a canalha miúda absorvia-lhe a atenção. Mas no regresso, com mais calma,
ficou a olhar à distância para o meu artefacto. Sentindo-lhe interesse,
sorri-lhe e gesticulei-lhe que se aproximasse, o que fez.
A
comunicação começou por ser difícil e a medo, que pouco sabia de português. Mas
em sabendo-me a falar, ainda que mal, o francês, tudo se tornou mais fácil e
quis fazer uma fotografia.
Enquanto
a impressão acontecia, fui inquirindo a anotando as respostas, como de costume.
E foi aí que a coisa aconteceu!
Não
tinha a senhora entendido que não apenas iria haver uma eventual publicação na
web como, menos ainda, que eu ficaria com uma cópia do que lhe entregasse. E
isso quase que a ofendeu. Acredito que entrasse violentamente em confronto com
a sua religião que, ao que sei no seu país de origem – Senegal – é seguida com
muito rigor.
Desfiz-me
em desculpas pelo meu erro ou engano na informação e prometi-lhe solenemente
que, em chegando a casa destruiria a cópia que possuía. Que ficasse tranquila
que tal sucederia pela certa.
E
tantas vezes o assegurei que ela acabou por se descontrair um pouco e passamos
a uma pequena mas amena conversa. Estava há cerca de um ano em Portugal, a
língua escrita entendia-a mas a falada era uma dificuldade. E que um dos
objectivos em aqui estar era o continuar os estudos iniciados na terra natal,
nomeadamente em filosofia.
Em
chegando a casa e em tratando as imagens e dados recolhidos, confesso que me
passou pela cabeça ficar com a imagem. Afinal, ninguém saberia da coisa,
ninguém a veria, nem mesmo a retratada e a sua prole, pelo que nenhum mal daí
adviria. Excepto…
Excepto
a minha própria consciência! Que palavra dada é palavra a cumprir, mesmo que
mais ninguém saiba que o fiz. Que o meu pior juiz sou eu mesmo!
E
foi destruída!
E
se a retratada, cujo nome eu tenho mas que aqui não referirei como é óbvio, por
aqui passar, que esteja descansada:
Daquela
fotografia, feita numa tarde de 2008 no Jardim da Estrela e com uma câmara de
madeira, não existe nenhum outro registo que não seja aquele pedaço de papel
com que ficou.
Porque,
afinal, seja qual for a fé que nos move (monoteísta, animista ou ateísmo) a
honra é comum a todas!
By me
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