domingo, 17 de agosto de 2014

Lado B



Já não serão assim tantos como isso os que se recordam do significado original da expressão “Lado B”.
Porque já não há assim tantos quanto isso a recordarem-se de ouvir no rádio um tema musical, daqueles que nos enchiam o ouvido, e ir à discoteca comprá-lo (ou pedir emprestado a quem tivesse dinheiro para o ter comprado).
Compravam-se em “Vinil”, que também está de novo na moda. LP’s, EP’s, Singles. E, para os que não sabem, “LP” significava “Long play”, querendo dizer que tocava durante bastante tempo. Uns vinte a trinta minutos e várias canções de cada lado, com uma velocidade de 33rpm. Já os “EP’s” tocavam a 45rpm e tinham apenas duas canções de cada lado. Os “Singles” eram isso mesmo: 45rpm e uma só canção de cada lado. Eram os mais baratos.
Pois o “Lado B” era o lado oposto ao da canção “hit”, aquela que nos levava a comprar o disco. Por vezes uma agradável surpresa, outras nem tanto, era também aí que os autores, quando mais libertos das tiranias dos editores musicais, colocavam os trabalhos mais pessoais, menos comerciais mas não forçosamente de menos qualidade.
O “Lado B” era “o outro lado”.
Ficou a expressão e o “Lado B da vida” é o outro lado, aquele menos comercial, menos banal, menos filtrado. Mas, muitas vezes, o mais rebelde, o de melhor qualidade, o mais genuíno.

Aquilo de que não se fala é do “Lado C”. E eu tenho uma especial predilecção pelo “Lado C”.
Trata-se daquele lado a que ninguém liga importância, a face curva do cilindro cujas bases são o “A” e o “B”, que nos discos chegava a ser aguçada e que nas moedas é rendilhada ou com outros entalhes para identificação legal e por parte dos cegos.
É nesse “Lado C” que vivemos! Num equilíbrio nem sempre estável entre o normal e o extraordinário, sempre sem sabermos muito bem para que lado cair, ora presos nas convenções e nas tabelas de vendas ora desejando saber o que há do outro lado de rebeldia e qualidade.
E nós, que vivemos no “lado C”, fartos do “Lado A” e suspirando pelo “Lado B”, não nos apercebemos que para lá chegarmos basta ligeiro gingar, um pequeno balanço, e estamos lá, no “Lado B”.

Assim tenhamos a coragem de o fazer!

By me

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